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Desde seu lançamento oficial no exterior, no início de fevereiro – ou melhor, desde seu "vazamento oficial" na internet, em novembro do ano passado – o segundo álbum do quarteto inglês Bloc Party vem dividindo opiniões. Os mais festeiros, até então encantados com o groove pós-punk do dançante e descontraído début da banda, Silent Alarm (2005), acusam o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Kele Okereke de ter simplesmente eliminado o "party" (festa) do sobrenome da formação, dedicando-se a canções mais introspectivas e conceituais (nos piores sentidos possíveis de ambos os adjetivos).

A queixa tem lá seus fundamentos. Afinal de contas, Weekend in the City (Warner Music, R$ 30 em média) não possui nem um terço da energia e da espontaneidade de seu antecessor, responsável por lançar o quarteto à condição de melhor banda surgida na Inglaterra na última década.

Mas achincalhar o segundo registro do Bloc Party simplesmente porque a banda optou por testar novos caminhos sonoros e de composição, ao invés de continuar apostando na garantida fórmula que rendeu ao grupo um álbum de platina e turnês pelo mundo, é uma grande injustiça. Desconsiderando toda a comoção que envolve o lançamento de um disco que sucede uma estréia retumbante, e as infinitas expectativas geradas por tal fato, os quatro amigos de East London (região metropolitana da capital inglesa) saem-se relativamente bem na árdua tarefa de amadurecer em meio a uma cena musical sedenta por novidades (desde que estas não sejam lá muito inovadoras, mas, sim, hypes reciclados).

Com ritmo desacelarado, canções menos urgentes, produção mais rebuscada e letras que substituem as abstrações presentes no álbum de estréia por assuntos sérios e, por vezes, íntimos e reveladores, Weekend in the City busca retratar uma juventude perdida e solitária em meio a uma megalópole do século 21, reinada por baladas intermináveis regadas a drogas e sexo casual. A Londres festiva e radiante, mesmo diante de todo o conservadorismo monárquico da sociedade britânica, que inspirou um dos melhores álbuns da década passada, Parklife (1994), do Blur, já não existe mais para Okereke, Russel Lissack (guitarra), Gordon Moakes (baixo) e Matt Tong (bateria).

A ironia, o sarcasmo e a celebração da liberdade comportamental da juventude inglesa dos anos 90, agora dá lugar à decepção, à angústia, ao medo e ao apego a memórias passadas e às drogas como vávula de escape e alívio imediato.

Quase a capella, acompanhado apenas de um piano, um sintetizador e uma guitarra crescentes, Okereke já inicia seu "fim de semana na cidade" disparando, em sussurros e falsetes, na faixa de abertura "Song for Clay (Disappear Here)": "Estou tentando ser heróico em uma era de modernidade/ Então, desfrutei e devorei/Carne, vinho e luxúria/ Mas em meu coração/Sou indiferente/Nada nunca me toca de verdade". O lamento logo ganha um poderoso riff de guitarra, uma vigorosa linha de bateria, mas continua intimista, até o último acorde.

Em seguida, a dançante "Hunting for Witches" fala da paranóia em relação ao terrorismo e à cruzada contra imigração promovida pelas autoridades britânicas, tema igualmente abordado em "Where Is Home", em que Okereke, negro e descendente de imigrantes nigerianos, revela, em versos doloridos, como é, a todo o momento, lembrado de que não pertence ao lugar onde vive ("Os dentes do mundo/Me rasgam ao meio/E todos os dias sou obrigado e me perguntar/Onde é?/Onde é meu lar?").

Reminiscências da infância de Okereke, cuja orientação sexual é o assunto preferido da imprensa britânica, são reveladas de modo singelo na bela "I Still Remember" – possivelmente a afirmação que os jornalistas há tempos queriam ouvir do vocalista, que, como todo o direito, se recusa a falar sobre o assunto em entrevistas ("Deixamos nossas calças perto do rio/E nossos dedos, eles quase se tocaram/Eu teria ido com você a qualquer lugar/Devia ter te beijado perto da água"). Revelando-se um letrista de mão cheia, Okereke comove ao falar da efemeridade dos relacionamentos amorosos típica de sua geração nas ótimas "Kreuzberg" ("Depois do sexo/ O gosto amargo/Enganado novamente/A busca continua") e na apaixonada "Sunday", sonho romântico de qualquer baladeiro(a) de plantão ("Te amo de manhã/Quando você ainda está de ressaca/ Te amo de manhã/Quando você ainda está lesado").

Ao retaratar as angústias de sua geração em um álbum de altíssima qualidade, o Bloc Party acaba esbarrando em um outro problema dos fãs de música da mesma faixa etária de seus integrantes: a falta de interesse no conteúdo de letras que abordem qualquer tipo de consideração sociológica. Mas até para isso há uma alfinetada, nos versos iniciais de "Uniform": "Havia uma sensação de decepção equanto saíamos do shopping/Todos os jovens pareciam iguais/Usando máscaras sociais/E fantasiados de rebelião". GGGG

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