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O artista baiano na foto da capa de Saliva-me ao Vivo: versatilidade e bom humor | Divulgação
O artista baiano na foto da capa de Saliva-me ao Vivo: versatilidade e bom humor| Foto: Divulgação

Opinião

Luigi Poniwass, editor da Revista da TV

Gravações reproduzem astral do show

O CD Saliva-me já existia. Saiu em 2007, e foi o primeiro álbum do ator, apresentador, poeta, cantor e compositor baiano Zéu Britto. Três anos depois, o registro é relançado ao vivo, com direito a DVD e novos arranjos – e três músicas que não saíram na primeira versão, "Açougueiro", "Interesseira" e "Gosto Que Me Enrosco".

A mão pesada do diretor musical, arranjador e guitarrista André Moraes, que nas imagens aparece de moicano e camiseta do Ramones, transformou praticamente todas as músicas em rockões arretados – com direito a citação de "Enter Sandman", do Metallica, em "Hino em Louvor às Raspadas (Raspadinha)", uma "homenagem" à atriz Claudia Ohana. As exceções são o reggae de beira de estrada "Noite de Motel", "Interesseira", que ganha um toque de baião, e o impagável hula-hula "Ousadia no Fundo do Mar".

Os melhores momentos são o dueto com Ivete Sangalo em "Brega de Leila", transformada em heavy metal; a nonsense "Mirabel Molhado", com piano e gaita; o arranjo roqueiro para o samba de Sinhô, "Gosto Que Me Enrosco", e o apoteótico final com o megahit (para os padrões de Zéu) "Soraya Queimada", que desemboca num hard core. Deve ser melhor ver o show ao vivo, mas o CD e o DVD até que conseguem repetir o astral da apresentação. GGG

Talvez você se lembre do baiano Zéu Britto pelas participações em programas como Sexo Frágil, Sob Nova Direção, A Diarista e Sítio do Picapau Amarelo. Ou como apresentador do Retalhão e do Zéu de Estrelas, no Canal Brasil. Se puxar mais um pouco pela me­­mória, pode ser que surja a imagem dele cantando umas músicas escrachadas, como a hilária "Soraya Queimada".

Pois o Canal Brasil, por meio do seu selo, reconheceu o talento do seu "funcionário" lançando em CD e DVD uma noite muito especial para ele: o show Saliva-me, realizado no dia 3 de dezembro de 2007 no Teatro Livre da Fun­­dição Progresso, no Rio de Janeiro. Com produção caprichada, incluindo um cenário que reproduzia um canteiro de obras "pós-moderno, caótico e apocalíptico", na definição do próprio Zéu, a apresentação que deu origem a Saliva-me ao Vivo empolgou o público e teve as participações de outros dois baianos ilustres, Ivete Sangalo e Maurício Baia.

Partiu de Ivete, aliás, a melhor descrição do trabalho do amigo: no DVD, além de cantar e se confessar tiete ao ponto de ter criado em Salvador o fã-clube Eu Sou Mais Zéu, ela o chama de "tropicalista de outro planeta". Faz sentido. Zéu Britto, nascido em Jequié em 19 de fevereiro de 1977, pertence à linhagem artística de Tom Zé, um dos fundadores da Tropicália – influência vi­­sível na performance, nas letras e na poesia.

No novo projeto, graças à presença do guitarrista André Moraes – que também assina os arranjos e a produção musical –, Zéu Britto surge muito mais rock-and-roll. A começar pela entrada triunfal: em meio a uma bruma de gelo seco, o artista "brota" de um bueiro cenográfico (com a ajuda de um elevador) antes de começar a cantar a ode sadomasoquista "Vou Queimar Seu Peito com o Isqueiro". O fi­­gurino também chama a atenção: Zéu aparece descalço, com uma espécie de túnica branca de hospital, blazer e calça pretos com detalhes em verde. Parece um fugitivo do manicômio com umas roupas roubadas por cima...

Os arranjos pesados e a atuação grandiloquente, pontuada por poemas picantes, o aproximam de outros roqueiros amalucados, como Raul Seixas, Fausto Fawcett, André Abujamra e Rogério Skylab. A proximidade é ainda maior com os dois cariocas (Fawcett e Skylab), por causa das músicas debochadas, falando de personagens exóticos e histórias bizarras. Quer um exemplo? Que tal o singelo primeiro verso da música "Açougueiro": "Me faça de bife/ Vou servir de consolo/ Me tempere com seu molho e depois/ Me asse... no forno do amor...". Ou a surreal rebelião das bolachas de "Mirabel Molhado": "Os biscoitos me agrediram, tomaram conta da minha cozinha/ Se uniram aos recheados/

Pediram ajuda à broa e à empadinha/ E ao croquete da vizinha."

Lendo assim, fora de contexto e com a frieza da folha de jornal, parece bobo. Mas ouvindo da descomunal boca do artista baiano (que, aliás, lembra a de Ângela Ro Ro), com sua eficiente inflexão dramática, fica engraçado. Zéu Britto é boa praça, talentoso e esforçado. Ironicamente, só precisava ser visto com mais seriedade.

Serviço:

Saliva-me ao Vivo (CD e DVD). Coleção Canal Brasil. Preço médio: R$ 23,20 (CD) e R$ 36 (DVD).

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