Nova Iorque – Truman Capote era considerado por muitos um ser muito estranho, mas, ao mesmo tempo, dono de um grande talento. Escritor norte-americano nascido em 1924 em Nova Orleans, Capote foi um legítimo representante do neo-romantismo da literatura sulista dos Estados Unidos. Escreveu várias obras, mas acabou ficando famoso pelo seu livro-reportagem A Sangue Frio, lançado em 1965 e ponto de partida para o filme Capote, de Bennett Miller, mostrado no último fim de semana para a imprensa no 43.º Festival de Nova Iorque, numa sessão que contou com a presença do diretor e de Philip Seymour Hoffman, que vive o escritor.

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Capote é baseado na biografia homônima de Gerald Clarke, publicada em 1990, mas a história tem por tema a investigação jornalística e o período de cerca de cinco anos em que o escritor se dedicou a escrever A Sangue Frio. A obra narra em detalhes o assassinato real, em novembro de 1959, de quatro membros de uma família de fazendeiros em Holcomb, em Kansas.

O escritor conquistou a confiança de um dos assassinos, Perry Smith, o convenceu a contar sua história e depois o traiu. Para ganhar a simpatia de Smith, desenvolveu um forte vínculo emocional baseado em traumas de infância semelhantes. E, mesmo assim, Capote foi totalmente favorável a que os dois assassinos, inclusive Perry, fossem condenados à morte. Eles foram executados em 1965, no mesmo ano da publicação do livro.

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Miller explicou o que o motivou a filmar Capote. "Em 1998, eu fiz o documentário The Cruise, sobre o guia turístico de Nova Iorque, escrito por Timothy Speed Levitch. Durante o lançamento do filme, eu descobri o quanto as pessoas se interessam por saber da vida de outras pessoas. Pensei, então, em filmar a vida de Capote e tão logo consegui o dinheiro, toquei o projeto".

O filme começa com Capote, então um badalado romancista residente em Nova Iorque, indo para Kansas encontrar os assassinos com o objetivo de iniciar seu livro, que lançou uma nova concepção na forma de desenvolver esse tipo de reportagem.

Na verdade, depois de Truman Capote, a imprensa americana nunca mais seria o mesmo. Ele deu início a um novo gênero – o jornalismo literário, onde a reportagem se transforma numa história dramática e novelesca.

Na vida pessoal, no entanto, o escritor foi um ser extremamente carente e vaidoso que precisava da constante aprovação de todos. Por tudo isso, Miller diz ter procurado fazer um filme austero. "Trata-se de um assunto sério, e era fundamental fugir do sensacionalismo. Por isso, fiz questão de ser moderado e comedido em tudo, na fotografia, na música, nos cenários e também na abordagem do retratado", disse.

Philip Seymour Hoffman (de Magnólia), como costuma acontecer, está ótimo no papel e vem sendo citado como possível indicado ao Oscar de melhor ator. Além da imitação perfeita da forma como Truman falava – um misto de voz de bebê com sussurros –, ele consegue transmitir com competência o homem ardiloso e arrogante, mas ao mesmo tempo ávido por reconhecimento e afeição. Os acusados Smith e Hickock são vividos respectivamente por Clifton Collins e Mark Pellegrino. Catherine Keener (de O Virgem de 40 Anos) vive a colega e amiga de Capote Nelle Harper Lee, autora de O Sol É para Todos.

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