Propostas
Saiba mais sobre as principais mudanças que podem acontecer na lei Rouanet.
- Descentralização é uma palavra de ordem. 80% dos recursos são destinados a produções de São Paulo e Rio de Janeiro. O Paraná fica em 6º lugar no ranking.
- Popularização O deputado Angelo Vanhoni pretende empreender campanha junto ao empresariado paranaense. "97% da verba para o mecenato é de estatais, enquanto as empresas respondem por apenas 3%", diz. O parlamentar observa que, se uma grande rede de supermercados paranaenses direcionasse o dinheiro do imposto de renda para a Lei Rouanet, isso se traduziria em "pelo menos 50 grandes montagens nacionais feitas por grupos locais".
Entre porções de batata suíça, terão início, em Curitiba, já neste sábado (4), as discussões sobre o que pode mudar na Lei Rouanet, que completa 17 anos. O cenário será simbólico: o Original Beto Batata, no Alto da XV (R. Prof. Brandão, 678), espaço gastronômico que também é palco para variadas atividades artísticas. Estão confirmadas as presenças de artistas, produtores e do deputado federal Angelo Vanhoni (PT).
O governo federal abriu, oficialmente, canal para o debate público em 23 de março e a interlocução segue durante o primeiro semestre. Na terça-feira (7), às 19 horas, será a vez de o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, escutar pessoalmente o que a comunidade curitibana tem a dizer, no Teatro Fernanda Montenegro.
Além da sempre bem-vinda desburocratização do processo de entrega de documentos, uma demanda antiga, Vanhoni (cotado para ser o relator da comissão que fará os ajustes na lei) acredita que as principais mudanças passam por três questões. Em primeiro lugar, há a necessidade de descentralizar o destino das verbas 80% dos valores são canalizados para São Paulo e Rio de Janeiro. "Mas não vamos fazer uma guerra contra o eixo Rio-São Paulo. A meta é distribuir os recursos para outras regiões brasileiras", afirma Vanhoni.
Outro desafio é tornar a Lei Rouanet mais conhecida. No que diz respeito ao mecenato (que é o processo em que artistas e produtores aprovam projetos e, posteriormente, buscam captação), a maioria das verbas (97%) "jorra" dos cofres de estatais, e a iniciativa privada responde por apenas 3%. "A Rouanet é praticamente 'desconhecida'. É preciso dar publicidade ao mecanismo, para que os empresários, inclusive os paranaenses, também destinem dinheiro (do imposto de renda) para o fomento de atividades culturais", comenta Marcos Cordiolli, produtor de cinema.
A criação de fundos é outro ponto em discusão. O Fundo Nacional de Cinema, que (por dispositivos legais) concentra verbas para a produção audiosvisual, é o modelo. Ambiciona-se que venham a ser criados outros fundos, para literatura, patrimônio, entre outros. Marcelo Miguel, coordenador da Quixote, produtora envolvida em 86 projetos via Lei Rouanet, é um dos que apostam na criação dos fundos, até porque o mecenato pode ser extinto em cinco anos após a promulgação da nova lei.
Outras metas
Hoje, os projetos inscritos no mecenato são enquadrados em apenas duas categorias. Uma delas permite que a totalidade do valor seja descontado do imposto de renda (se a proposta tem custo de R$ 100 mil, a empresa patrocinadora tem 100% do valor abatido dos tributos) na outra categoria, a dedução é de apenas 30% (os outros 70% do valor são custeados, sem desconto no imposto, pela empresa que investe na proposta). O novo texto da lei pretende implementar outras faixas de desconto: 30%, 60%, 70%, 80%, 90% e 100%.
Monica Drummond considera a criação de novas faixas de desconto uma "tragédia". "Tudo que a empresa investe tem de ser descontado do imposto de renda. Tem uma crise aí. Ninguém vai querer abater apenas uma parcela e pagar o resto do bolso", critica. A produtora, à frente da Cultural Office, analisa que essa modificação veio em "péssima hora."
O protesto de Monica não é isolado. Outros produtores locais não acreditam que as modificações da lei se traduzam em melhorias reais. Em meio às vozes dissonantes, uma indignação comum: no Paraná, as verbas destinadas à projetos da Lei Rouanet saem de empresas públicas e têm como destino o Museu Oscar Niemeyer. Para não ficar "de mal" com o governador Requião, os insatisfeitos optam pelo anonimato.
Mais abrangência
Apesar das mudanças na Rouanet, a lei não é suficiente para dar conta de todas as carências do segmento. Na tarde de 31 de março, foi instalada no Congresso Nacional uma comissão que vai analisar mudanças na Constituição e isso terá reflexos diretos no fomento da cultura brasileira. Hoje, o Brasil destina 0,8% do orçamento para o setor (o objetivo é elevar o índice para 2%). Também há expectativa para que venham a ser criados o Sistema e o Plano Nacional de Cultura que teriam a finalidade de aglutinar políticas públicas em âmbito nacional.
"Também é importante unificar mecanismos de fomento. Por que não conduzir um mesmo projeto com recursos de lei municipal e federal?", propõe Otávio Camargo, músico e diretor da Associação Cultural e Artística IlíadaHomero.
Camargo convida a comunidade para participar dos debates sobre o futuro da Lei Rouanet, neste sábado e na próxima semana. Vanhoni reforça o chamado: "Quanto mais polêmica, melhor." O parlamentar foi o idealizador, durante a década de 1990, da atual Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba, e de uma similar para todo o Paraná esta foi desativada por Jaime Lerner e ambém não empolgou Roberto Requião. Por falar nisso, na terça-feira (7), o governador do Paraná anuncia e assina um novo projeto, ainda mantido em segredo, em parceria com o Ministério da Cultura.
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