São Paulo - O norte-americano Allan McCollum, californiano de 64 anos que hoje vive e trabalha em Nova Iorque, estava bastante irritado quando foi abordado pela reportagem da Gazeta do Povo na última quinta-feira (23).
Durante a visita guiada oferecida à imprensa brasileira e internacional pela organização da 28ª Bienal de São Paulo, um dos curiosos visitantes, não se sabe se jornalista ou não, havia se apropriado indevidamente de um dos lápis especiais que McCollum e sua equipe estavam utilizando para dar os últimos retoques na monumental instalação "Drawings8", que reúne 1,8 mil porta-retrato que exibem símbolos, todos distintos uns dos outros. "Eu acho que sei quem pegou", disse, ao disparar um olhar fulminante em direção a um grupo que se afastava.
Um pouco mais calmo, o artista, um dos 42 convidados para a Bienal deste ano, explicou que a proposta de sua obra é falar sobre a necessidade dos seres humanos, não importa à qual cultura pertençam, de se auto-representar sob a forma de símbolos. Desde clubes esportivos, por meios de suas insígnias, até famílias mais tradicionais, com seus brasões, todos recorrem a alguma espécie de imagem em busca de identidade. "É como se, com esse trabalho, eu estivesse criando um signo para cada pessoa que entra aqui, ainda que simbolicamente."
A instalação de McCollum era uma dos poucas obras quase prontas a dois dias da abertura da Bienal, que será inaugurada hoje para convidados e amanhã para o público.
Escorregador
Outro trabalho que já chamava a atenção antes mesmo de se entrar no pavilhão é o imenso escorregador de aço inoxidável criado pelo belga Carsten Höller, hoje radicado em Estocolmo, na Suécia. Do lado de fora do prédio, a obra, composta por dois tubos capazes de suportar até 4,5 toneladas, permitirá aos mais corajosos deslizar do terceiro andar até a Praça (espaço dedicado ao convívio entre os visitantes), no piso térreo, a uma velocidade de 6 metros por segundo.
Um dos nomes mais importantes desta Bienal é o da sérvia Marina Abramovic, considerada a grande performer em atividade no mundo. Com muitos trabalhos que se apropriam da linguagem da videoarte, Marina terá companhia ilustre: a finlandesa Liisa Ahtila, uma das pioneira dessa linguagem audiovisual.
Entre os brasileiros, deve impressionar os visitantes a instalação de Dora Longo Bahia, que vai intervir no espaço do terceiro andar, cobrindo o piso com resina. Por motivos diversos, também deve causar alarde a participação de outro nome nacional: Maurício Ianês, paulista da cidade de Santos. Ele pretende viver nu e sem comer por duas semanas, perambulando pelo pavilhão, especialmente no vazio da "planta livre" do segundo andar do prédio.
Há rumores de uma ação conjunta de pichadores e grafiteiros, que prometem invadir o prédio e "intervir" nas obras, em mais uma iniciativa "terrorista" promovida pela galeria Choque Cultural, especializada em street art. Os curadores da 28ª Bienal dizem estar cientes da ameaça e, caso a ação aconteça, que os responsáveis serão detidos pela segurança do evento.
Integração
Na busca de integração da Bienal com o dia-a-dia do Parque Ibirapuera, vão acontecer nas manhãs de terças, quintas, sábados e domingos, sempre às 10 horas, aulas de dança com o coreógrafo Ivaldo Bertazzo.
Hoje, às 19 horas, apresenta-se para convidados a dupla performática musical O Grivo. Amanhã, às 20h30, o duo de música eletrônica nova-iorquino Fisherspooner será visto por uma platéia limitada a 1,5 mil pessoas.
A página na web da 28ª Bienal (www.28bienalsaopaulo.org.br) permite ao público participar ativamente do debate sobre a Bienal de São Paulo por meio da adição ou download de documentos e da definição de percursos e leituras individuais do evento. Além da programação completa da exposição, o site irá disponibilizar os registros em vídeo das conferências e um banco de dados com informações sobre os artistas participantes e seus projetos.
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