2011 foi um ano muito especial para a Ucrânia. O país do Leste Europeu comemorou os 20 de anos de sua independência, depois de integrar, por quase 70 anos, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Do outro lado do Atlântico, no Brasil, celebrava-se outra data importante: os 120 anos da chegada da primeira leva de imigrantes ucranianos ao país, onde vivem em torno de 500 mil descendentes, número apenas menor do que o encontrado nos Estados Unidos (1,5 milhão) e Canadá (1 milhão).
Como parte das comemorações a esse marco na história da presença ucraniana no Brasil, uma comitiva composta por 186 integrantes viajou, há dois anos, ao país da Europa Oriental, percorrendo suas diversas regiões, participando de eventos festivos, alguns com a presença de autoridades de ambas as nações. No grupo, além de muitos descendentes, estavam alguns ucranianos há décadas vivendo no Brasil, e que jamais haviam retornado à terra natal, e até dois grupos curitibanos de música e dança folclórica: o Barvinok (da Sociedade Ucraniana) e o Poltava, do clube que leva o mesmo nome.
Também a bordo dessa comitiva estavam os cineastas Guto Pasko e Andréa Kaláboa, que, apesar de terem levado com eles equipamentos para registrar os vários momentos da viagem e das comemorações, não pensavam, em princípio, na ideia de produzir um filme. A experiência, no entanto, foi tão memorável em vários aspectos, que a dupla (além de sócios na produtora GP7 são namorados) se empolgou. Foram registradas em torno de 75 horas de imagens, que mostram desde momentos mais íntimos de descontração compartilhada pelos viajantes até cerimônias oficiais das quais partciparam. Desse material todo, nasceu o documentário Sim, Também Somos Ucranianos, que depois de 357 horas de edição, deve entrar em breve em fase de finalização, tão logo os diretores e produtores consigam levantar os recursos necessários para esse fim, estimados em cerca de R$ 30 mil o orçamento total do longa deve ficar em trono de R$ 120 mil.
"Russificação"
Pasko vem dedicando parte substancial de seu trabalho como diretor a obras que abordam de forma direta ou indireta a sua ascendência. Em Made in Ucrania (2006), documentário depois transformado em série para a televisão, ele faz um resgate histórico da imigração ucraniana no Paraná. Já em Iván De Volta para o Passado (2011), ele acompanha o tocante retorno de Iván Bojko, que deixou a Europa em 1948, na juventude, ao país onde nasceu, e seu reencontro com a família que deixou para trás.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Pasko conta que, para boa parte dos integrantes da comitiva, principalmente para os muitos que foram pela primeira vez à Ucrânia, a experiência de 2011 foi muito emocionante, como não poderia deixar de ser, mas também um pouco perturbadora, uma vez que encontraram um país moderno, muito diferente daquela terra ancestral idealizada, construída a partir de relatos por vezes transmitidos de geração em geração, cheios de nostalgia.
Ele conta que a Ucrânia contemporânea, apesar de teoricamente independente há duas décadas, ainda é profundamente influenciada pela força imperialista da Rússia. O idioma da gigantesca vizinha rivaliza com a língua local, também de raiz eslava, e se impõe entre os jovens e até mesmo em instâncias do poder público e da vida uinversitária. Ao ponto de ter emergido, diante desse acelerado processo de russificação, uma campanha popular em defesa da cultura e da língua locais, intitulada "Sim, Somos Ucranianos", de onde nasceu o nome do filme de Pasko e Andréa, Sim, Também Somos Ucranianos.
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