A nostalgia invadiu a televisão e o cinema nos últimos anos, mas nossa obsessão coletiva em relembrar tem sido particularmente frutífera na Netflix.
Além de dar vida a décadas passadas com a saga do hip-hop de Baz Luhrmann “The Get Down” e o fenômeno ambientado nos anos 80 “Stranger Things”, o serviço de streaming recauchutou animações favoritas das crianças tais como “Popples” e “Voltron” e lançou uma adaptação em filme do querido romance “O Pequeno Príncipe”. “Beat Bugs”, outro seriado de animação, combina histórias acessíveis para crianças com canções dos Beatles. A Netflix também lançou “Gilmore Girls: Um Ano para Recordar”, um revival de quatro episódios do popular seriado dos canais americanos WB e CW “Gilomore Girls” na sexta-feira.
É claro, a Netflix não é o primeiro a evocar eras passadas – Nickelodeon foi um pioneiro da programação nostálgica, trazendo de volta seriados adolescentes populares tais como “All That” e “Clarissa Sabe Tudo” em 2011. Mas isso foi antes dos dias de TV de alta definição e antes do streaming (em oposição a, por exemplo, o serviço de envio de DVDs dos primórdios da Netflix) se tornar onipresente. Na Netflix, o reinado da nostalgia tem menos a ver com acompanhar tendências da cultura pop do que com os planos ambiciosos do serviço de streaming para a produção de conteúdo original.
“Sempre estamos procurando grandes histórias”, disse o chefe de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos. “Não estamos planejando encontrar projetos nostálgicos, mas às vezes na caça por bom material alguém tem uma bela abordagem de algo que é imensamente familiar.”
Como reportado pela Variety e por outros, o serviço de streaming anunciou recentemente que está levantando um bilhão de dólares por meio de uma oferta de crédito para financiar mais conteúdo original. Em setembro, a Netflix reiterou seu foco em seriados e filmes originais. A Netflix planejou lançar cerca de 600 horas de programação original em 2016. Ano que vem, o serviço espera lançar mais de mil horas de conteúdo original.
‘Stranger Things’
“Stranger Things” não foi um revival tradicional, mas pagou tributo a pilares da cultura pop dos anos 80 e fim dos 70, incluindo “Alien”, de Ridley Scott, o filme de 1986 de Rob Reiner “Conta Comigo” e um desfile de filmes de Steven Spielberg dos anos 80, incluindo “E.T.”. De maneira similar, “The Get Down” alimentou a onda de nostalgia com uma abordagem extravagante, mas baseada em uma boa pesquisa dos primórdios do hip-hop no Bronx.
“Stranger Things” foi um surpreendente sucesso de verão, embora Sarandos diga que o serviço “definitivamente sabia que tinha algo especial em mãos” depois de assistir a versões iniciais dos episódios. De acordo com uma pesquisa lançada pela Netflix em setembro, a maioria das pessoas que se tornaram fãs o suficiente para assistir a todos os 10 episódios do suspense de ficção científica o fez depois de terminar o segundo.
Sarandos disse que “Stranger Things” é popular em uma escala global, embora isso seja difícil de quantificar porque a Netflix não divulga informações sobre sua audiência. Sarandos disse que a companhia sabe os números audiência “com incrível detalhamento”, mas não considera esse dado a melhor medida de seu sucesso porque não vende anúncios. Em vez disso, a companhia se concentra em crescimento do número de assinantes, que está em alta.
De forma anedótica, Sarandos aponta para o imenso número de seguidores que “Stranger Things” e os amplamente desconhecidos membros do elenco conquistaram nas mídias sociais depois da estreia em agosto como evidência de que o seriado conta com uma dedicada base de fãs. “Não há dúvidas de que algo está funcionando nos Estados Unidos e no resto do mundo quando todo mundo está falando sobre isso”, disse Sarandos.
Gilmore Girls
Quando se trata de revivals mais tradicionais, a Netflix tem tido mais discernimento que outras redes de televisão ao decidir quais seriados merecem ser ressuscitados. “Três é Demais” e “Gilmore Girls” ambos têm bases de fãs multigeracionais (resultado de anos de retransmissões e estimadas caixas de DVDs) que tornam atraente a ideia de continuar essas histórias.
E a Netflix não está apenas fazendo remakes desses seriados da maneira como, por exemplo, a CBS fez com a sua “A Hora do Rush”, que teve vida curta. “Fuller House” e a minissérie de “Gilmore Girls” são essencialmente sequências. Não que as redes de televisão não tenham tido sucesso, às vezes, com o formato de remake – “McGyver” foi bem feito nas sextas-feiras à noite na CBS, “Máquina Mortífera” tem se mantido nos índices de audiência apesar da recepção ambivalente, e “O Exorcista”, que não é um sucesso de audiência, é surpreendentemente digno de ser visto se você é um fã do gênero horror.
Sarandos atribui à pronta disponibilidade de filmes e seriados antigos a capacidade de audiências mais jovens encontrarem referências familiares em “Stranger Things” e “The Get Down”. “Tudo está nos ricos detalhes que você poderia pensar que se perderiam para a audiência jovem”, disse, usando os telefones de rodar de “Stranger Things” como um exemplo.
“Meu filho de 20 anos nunca disse ‘O que é isso?’ porque está acostumado a ver em filmes e na televisão”, disse Sarandos. “É quase como se vida e arte apenas acontecessem em um contínuo constante agora e fossem encenadas por meio da televisão.”