Uma professorinha de cabelo colorido, falando meio caipira; cavalos que movimentam-se como em um desenho animado e perucas que lembram a extravagante rainha da França, Maria Antonieta. Tudo na novela das 6, exibida pela RPC-TV, "Meu Pedacinho de Chão", causou estranheza nos primeiros capítulos. Mas, passado o "susto", o público se rende e deixa-se levar pelo mundo maravilhoso criado pelo diretor Luiz Fernando Carvalho, onde inclui-se um figurino pensado nos mínimos detalhes.
Tudo foi feito dentro do "universo fabular, em que cada personagem traz consigo a simbologia contida na memória da infância", explica a figurinista da trama, Thanara Schönardie, relatando que o acervo é composto por 300 peças, contabilizando apenas roupas, sem os chapéus, sapatos e outros acessórios.
A riqueza de materiais, principalmente nos vestidos das mulheres, é um capítulo à parte no folhetim. São flores, rendas, bordados, tules e outros acabamentos que - pasmem - são feitos de objetos recicláveis.
"Para esse figurino estamos pondo em prática um projeto chamado Segunda Pele, onde recebemos materiais que seriam descartados do acervo de figurinos da TV Globo. Quando esses objetos chegam ao ateliê, são separados por cor e ficam à disposição para a criação de novos tecidos", explica a figurinista. Segundo ela, "primeiro são criadas pequenas amostras direcionadas a cada personagem e a equipe da oficina de reciclagem fica responsável por multiplicar essas texturas, recortando, desfiando, tramando, aplicando, enfim, unindo pedacinhos do material descartado para a composição de novas superfícies têxteis."
No desenvolvimento deste trabalho entram também outros materiais como canudinhos, talheres de plástico, grampos de cabelo, pedaços de brinquedos, bexigas e bijuterias.
Assim como na novela, o lúdico é presença constante nas oficinas e as costureiras e bordadeiras deixam-se levar pela sensibilidade. As ideias vão surgindo de forma sensorial, mais especificamente através do tato. "Além da sensação visual que o material transmite (cor, volume, forma, brilho?), o toque é fundamental para definir se poderá ser utilizado e de que forma", afirma a figurinista.
Construção diária das personagens
Obviamente que personagens centrais como Juliana (Bruna Linzmeyer) e Catarina (Juliana Paes) executam mais trocas de roupas, não somente pela quantidade de cenas, mas pelo que representam na novela. Porém, o cuidado com o figurino de todos os atores é diário.
"Catarina é uma mulher em constante transformação, exuberante e inquieta, embora aprisionada à estrutura social da época, onde a mulher revela através da opulência de seus trajes o quanto seu marido é bem-sucedido. Transborda os desejos femininos pelas barbatanas de seu espartilho", filosofa a figurinista, explicando ainda que, justamente os vestidos de Catarina, são os mais pesados, por conta da armação de aço que dá forma à silhueta da época.
Com relação à professora Juliana, a explicação é que ela é a representação do amor. "É uma guerreira, a mulher que luta por seus nobres ideais com liberdade, trazendo o conhecimento, a modernidade para aquele lugar, ali representada por uma silhueta da metade do século XIX, repleta de elementos contemporâneos, tanto nos materiais das roupas como nos acessórios recém-lançados pela moda, como os óculos."
Figurino masculino
Os materiais usados no vestuário masculino variam de acordo com os personagens. "O Zelão (Irandhir Santos),por exemplo, que é um dos personagens mais próximos de um desenho animado, é todo feito em plástico, tapetede silicone, canudinhos e borracha."
Já o coronel Epa (Osmar Prado) e o prefeito (Ricardo Blat), a figurinista conta que eles usam peças originais do século XIX, misturadas a tecidos tecnológicos e adereços de acetato e papel metalizado. E, Ferdinando(Johnny Massaro), segundo ela, tem a elegância de um jovem dândi da época, com uma alfaiataria que mistura plástico refletivo e tecidos metalizados com o romantismo dos tecidos de algodão com estampa floral.
Cabelos
O cabelo é um ingrediente importante no figurino e, como não poderia deixar de ser, o trabalho é feito em conjunto. "Temos uma construção diária para cada personagem, um processo que varia entre 30 minutos e duas horas de preparação. As perucas da Catarina mudam a cada cena e precisam ganhar novos penteados adequados aoadereço escolhido. O cabelo da Juliana é acompanhado por uma especialista em coloração e retocado com frequência."
Memória afetiva
Quando a novela começa, a tela é invadida por cores fortes e até isso foi estudado. "A paleta de cores alegres é a representação desse universo que demonstra não apenas o mundo colorido sob um olhar infantil, mas resgata a esperança na memória adulta desse olhar", conclui Thanara Schönardie.
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