A série Arquivo-X ganhou a chance de um reboot em 2016, com seis novos episódios filmados após uma campanha de seus fãs. Os novos episódios foram filmados 14 anos depois do término da série – e voltam tendo de espelhar um mundo totalmente diferente de quando foi ao ar pela última vez, em 2002. Então, como os agentes Mulder e Scully se ajustaram a um bravo mundo novo de smartphones, streaming de vídeo e mídias sociais? Quem responde é Chris Carter, criador da série.
Sempre houve um movimento para trazer o seriado de volta. Esse burburinho é verdadeira razão para termos sido convidados a voltar. Há o ponto de vista cínico de que estamos apenas tirando poeira de uma propriedade intelectual envelhecida. Mas para a 20th Century Fox, para os atores, para mim e os demais produtores, é uma chance de contar novas histórias em um novo contexto. O seriado tem uma engenharia narrativa sempre viva. Penso que há várias e várias histórias de “Arquivo-X” para contar e serem contadas. Nunca me surpreendi quando alguém chegava para mim e dizia: “Sou fã do show” – mesmo que muitos deles ainda não fossem nascidos ou fossem crianças quando o seriado estreou. Há toda uma geração de garotos que agora vai querer assistir à série. E preciso ter em mente, acima de tudo, que a série só voltou por causa dos fãs mais fiéis. Não quero encher a cabeça deles com coisas que ele já saibam ou sejam familiares para eles.
“Em 2012, havia um ambiente político em que depositávamos toda nossa fé no governo. Vivemos hoje em um mundo Citizenfour. E o governo admite nos espionar. É realmente incrível que não se veja muitos protestos sobre isso.”
Sem dúvida. O fato de você poder ver a série a qualquer momento, em qualquer plataforma, em dispositivos móveis amplia nossa audiência. É bom para o telespectador e para os produtores. É o futuro.
Enfaticamente sim. Sempre houve ênfase em Mulder, Scully e seus telefones celulares. Eram a linha vital entre os dois, mas pareciam tijolos em suas mãos. Eles nem mesmo trocavam mensagens de texto. Agora Mulder pode trabalhar no sofá de casa, de cueca, porque todas as informações estão disponíveis a uma simples combinação de teclas. E estamos mais conscientes da espionagem. Há uma cena em que Mulder está falando com Scully e põe um pequeno pedaço de fita adesiva sobre a câmera do seu laptop.
Sim. Quando saímos do ar, em 2002, havia um ambiente político em que basicamente depositávamos toda a nossa fé no governo. Não estávamos interessados nas conspirações do governo. Quinze anos depois, essa ideia assumiu um viés oposto. Vivemos hoje em um mundo Citizenfour [Oscar de melhor documentário de 2014, sobre o escândalo de espionagem da agência norte-americana NSA]. E o governo admite nos espionar. É realmente incrível que não se veja muitos protestos sobre isso.
Antes de começar as refilmagens, fui convidado para uma reunião de marketing. Entrei em uma sala e lá havia 50 pessoas. Brinquei que precisava de menos gente no set de filmagem para rodar a cena de um seriado de tevê do que para fazer uma reunião de marketing. Muito disso tem a ver com o fato de termos muitas frentes a alimentar na internet. Há até uma asa da equipe de marketing chamada “operações especiais” – e eu não sei ao certo o que eles fazem. Há todo um preparo de marketing totalmente direcionado para audiências modernas, móveis e de redes sociais.
Me sinto mais perto deles mesmo não sendo um usuário de redes sociais. É o novo meio. Crescemos com a internet e “Arquivo-X” foi uma das primeiras séries com presença online, em salas de bate-papo. Isso era novo. Há também outra coisa acontecendo, eu chamo de um efeito de metabolismo. As coisas são consumidas, digeridas e dispensadas em alta velocidade porque há muita mídia. É mais direto e imediato. Vem e vai em um piscar de olhos.
Apenas nos dá poder de estabelecer uma conexão mais direta e de duas vias. Você precisa saber que tudo o que você diz, faz e grava provavelmente tomará um outro rumo nessa outra realidade que é a internet. Sabendo disso, este novo fenômeno do streaming ao vivo via Periscope, por exemplo, põe o que eu faço sob uma nova luz. Você não percebe que o que está fazendo está em um anfiteatro muito público.
“Crescemos com a internet. Arquivo-X foi uma das primeiras séries com presença online, em salas de bate-papo. Isso era novo.”
Você acaba sempre olhando à sua volta ao invés de se concentrar no trabalho. Fomos filmar uma cena em uma rua de Vancouver e Gillian Anderson [agente Scully] olhou para mim e disse: “Você escolheu essa locação?”. Era extremamente pública. Havia muitos paparazzi. Tivemos de, digitalmente, tirá-los da cena. E há o temor de que tudo o que você faz é imediatamente publicado na internet. Uma das chaves da série são os elementos de mistério e surpresa. Agora posso perder isso. Arrisca não fazer o meu trabalho tão bem.
Estávamos operando um drone nosso, com permissão, e havia outro por perto que era ilegal. É algo com que temos de conviver. E outro dia estávamos filmando uma externa em uma limusine e havia um avião barulhento sobrevoando em círculos, interrompendo nossa filmagem e nossa capacidade de realizar nosso trabalho. Você sabe, temos de lidar com todo o tipo de fenômenos inesperados.
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