Notavelmente, dois filmes saíram este ano sobre a juventude de Barack Obama. Ainda mais notavelmente, ambos são excelentes.
No último verão, Richard Tane escreveu e dirigiu “Michelle e Obama”, um drama estilo “um dia na vida” especulativo mas absolutamente convincente sobre o primeiro encontro de Obama com uma conselheira de jovens advogados em uma firma de advocacia chamada Michelle Robinson. Com “Barry”, o diretor Vikram Gandhi visita a vida de Obama alguns anos antes, quando ele era um estudante na Universidade de Columbia, tendo acabado de ser transferido do Occidental College na Califórnia.
Conforme “Barry” começa, o personagem título está em um avião sobrevoando Manhattan, fumando e lendo uma carta de seu pai ausente, que passou a maior parte da vida do filho no Quênia. Tendo crescido no Havaí, sido criado principalmente pelos seus avós brancos, Barack Obama – ainda chamado de “Barry” por sua família e amigos – tem uma primeira impressão intimidadora e de quase completo estranhamento de Nova York.
Depois de ser forçado a dormir do lado de fora em sua primeira noite na cidade, ele finalmente tem acesso ao apartamento que vai dividir com um tranquilo Will (Ellar Coltrane, de “Boyhood”) e seu alucinado e festeiro senhorio, um paquistanês tagarela chamado Saleem (Avi Nash, em uma atuação de roubar a cena). Mergulhando nos estudos, na vida das ruas de Nova York e em uma jornada de autodescobrimento que adquire um senso extra de urgência dado seu passado complicado – sem mencionar seu futuro, conhecido pelo público – Barry começa a forjar sua própria identidade, frequentemente a despeito das expectativas políticas e pessoais que alimentam esse processo complicado e muitas vezes contraditório.
Deslocamento
O principal estímulo para o autodescobrimento de Barry é Charlotte (Anya Taylor-Joy), uma colega exuberante e de coração aberto que o roteirista Adam Mansbach criou como uma composição das mulheres brancas com quem Obama saiu na faculdade. Em uma das diversas cenas vividamente atmosféricas de “Barry”, Charlotte leva Barry para um clube noturno em que o pluralismo de forma livre de Nova York está em hedonista e extasiada exposição. Ainda assim, quando Barry conhece os pais de Charlotte, um encontro desnorteante no banheiro do Clube Yale o lembra de sua persistente sensação de não pertencimento.
Durante uma partida de basquete só por diversão, Barry se torna amigo de PJ (Jason Mitchell), que serve como uma espécie de embaixador para a comunidade afro-americana da cidade. Depois de um encontro violento em uma barulhenta festa em uma casa, Barry se sente igualmente deslocado. “Essa não é a minha cena”, admite.
O ator australiano Devon Terrel entrega um retrato minuciosamente persuasivo e absolutamente comovente do futuro estadista que, ainda nos seus 20 e poucos anos, passava por um período de não pertencimento geográfico e psicológico – um momento doloroso sublinhado pela chegada de sua sagaz mãe Ann (Ashley Judd), cuja personalidade transbordante dá a “Barry” uma injeção de energia.
À deriva
Embora “Barry” empreste uma página de “Michelle e Obama” ao usar os relacionamentos de Obama com mulheres como uma metáfora para suas lutas internas, estruturalmente este é o filme mais expansivo e cheio de camadas. Não apenas vemos Barry trabalhar em seus sentimentos sobre raça e identidade durante seus encontros, que às vezes são de quebrar o coração, com Charlotte, mas também naqueles com PJ, Saleem, Will e – no confronto mais contundente do filme – um colega de classe branco que no começo do filme reclama que “tudo sempre tem que ser sobre a escravidão”.
É claro que “Barry” é ambientado em 1981, quando conceitos como politicamente correto, política de identidade e privilégio não examinado estavam sendo introduzidos na cultura dos campi. Se eles não são explicitamente invocados, esses debates públicos são antecipados em um filme cuidadosamente observador que, enquanto claramente bem firmado nos livros e memórias do próprio Obama, usa liberdade criativa para transmitir verdades mais sutis sobre a resistência contra rótulos redutivos e existencialmente sufocantes. Nesse sentido, “Barry” pode ser sobre o presidente que está deixando o cargo, mas carregará ressonâncias familiares para qualquer um que já foi jovem, talentoso e um pouco à deriva.
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