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Michael Dornan: espião que precisa consertar os erros do próprio pai | Elizabeth Morris/Amazon Prime Video/Divulgação
Michael Dornan: espião que precisa consertar os erros do próprio pai| Foto: Elizabeth Morris/Amazon Prime Video/Divulgação

Partindo de todo o vocabulário mais utilizado para descrever essas séries de TV que são difíceis para os criadores tentarem vender para as emissoras, os adjetivos “melancólica” e “peculiar” seriam adequados para falar de “Patriota”, da Amazon, um drama/comédia de 10 episódios sobre um espião (Michael Dornan) infiltrado, sob disfarce, numa missão complexa e moralmente duvidosa para tentar consertar um erro cometido pelo seu próprio pai, um oficial de inteligência, que envolve um esquema para frustrar as ambições nucleares do Irã.

“Patriota” é complicada e surpreende pela inteligência. É o exemplo perfeito de uma série que precisa entrar na sua lista das séries para ver uma hora.

Como? Então, quer dizer que você tem umas 49 séries na sua lista, algumas das quais você queria ver faz uns três anos já? Bem, é assim que funciona hoje: As séries vão sendo feitas, os críticos vão fazendo elogios nas resenhas e você fica se perguntando se vai conseguir sair de casa algum dia.

Peço desculpas se isso soa meio derrotista. Posso ter sido contaminado pelo humor meio para baixo de “Patriota”, particularmente com a interpretação macambúzia de Dornan no papel de John Tavner, um belo exemplo de um espião relutante, se já houve um. Envergonhado por ter cometido um assassinato sem querer durante o exercício da profissão, ele passa o tempo se chapando em Amsterdã e tocando baladinhas em estilo country alternativo nos cafés na madrugada – músicas improvisadas, com letras que poderiam ser consideradas violações de segurança nacional.

Toque de crueldade e senso de humor

O pai de John, Tom Tavner (Terry O’Quinn, de “Lost”), ex-congressista e agora diretor de inteligência do Departamento do Estado, convoca o seu filho para ajudar numa missão que tem a ver com o Irã, apesar dos receios da esposa de John, Alice (Kathleen Munroe), que se vê preocupada com o estado mental do seu marido. A missão envolve, antes de tudo, enviar John para Milwaukee, onde, sob disfarce, ele precisa arranjar um emprego de escritório numa empresa que manufatura canos – o que dá certo, depois que ele empurra um candidato rival na frente de um ônibus.

Ao acompanhar os executivos da empresa numa reunião de vendas em Luxemburgo, John põe sua missão real em execução, mas não sem algumas dificuldades, incluindo um assassinato que atrai a atenção de uma detetive de polícia local, Agathe Albans (Aliette Opheim), que, com toda a sua determinação, segue as pistas da cena do crime até Milwaukee.

Apesar de o criador/roteirista da série, Steve Conrad (cujo currículo como roteirista inclui “A Procura da Felicidade” e “A Vida Secreta de Walter Mitty”) tenha criado uma série com uma sensação e um visual muito próprios, ele também mais ou menos replicou o efeito de um filme dos irmãos Joel e Ethan Cohen, em que um toque de crueldade e senso de humor mais seco casam perfeitamente. O que lhe falta, porém, é o domínio do ritmo narrativo que os Coen têm.

Distrações e floreios

A fábrica de canos fornece uma variedade de outros personagens adicionais, incluindo o chefe de John, Leslie (Kurtwood Smith), um alcoólatra em recuperação que cria um desafeto imediato pelo novo funcionário; e um colega xereta, Dennis (Chris Conrad), ansiosíssimo para se envolver com espionagem internacional. Há também o irmão mais jovem de John, Edward (Michael Chernus), que recentemente herdou o assento que Tom deixou vago no Congresso, porém não tem a menor noção da espionagem toda que acontece ao seu redor.

Entre Milwaukee, Luxemburgo, Washington e algumas idas e vindas na cronologia (a série cobre um período que vai de 2011 a 2016), tem muita coisa no momento para o espectador digerir – mesmo o mais treinado já pelas narrativas não-lineares desta era de ouro da televisão.

Os primeiros episódios de “Patriota” se esforçam demais para tentar parecer descolados e acabam sobrecarregados de distrações e floreios. Assim, a série demora um pouco, seguindo no seu próprio ritmo (que é legal de acompanhar ainda assim), até engrenar. E paciência não é o forte dos espectadores de hoje, mesmo que “Patriota” faça o seu tempo valer a pena.

“Patriota” (10 episódios) entrou em streaming nesta sexta-feira (24/02), na Amazon.

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