Quando o fundo do poço parece perto, BoJack Horseman, o cavalo humanoide protagonista da série de animação original do Netflix que leva seu nome, mostra que não. Ainda há muito mais escuridão para se mergulhar. Mais uma temporada, a terceira, chegou nesta sexta-feira(22), para chafurdar a vida desse personagem incapaz de tomar um rumo.
No universo surreal no qual animais andam sobre as patas traseiras e convivem com humanos em igualdade, criado pelo comediante Raphael Bob-Waksberg, BoJack é um ex-astro de uma sitcom bem ao estilo dos anos 1990 - com plateia durante as filmagens e aquelas risadas forçadas a cada frase de efeito dos personagens. O equino-humano vive da fama conquistada no passado, enquanto se afunda em questionamentos sobre a própria vida.
Ao longo das outras duas temporadas, BoJack, muito bem dublado por Will Arnett, teve todas as oportunidades para se regenerar. Uma biografia sobre sua vida desprezível, embora facilmente identificável, levou o público a conhecer mais da personalidade daquele normalmente cumprimentado por “Ei, você não é o cavalo (da série) Horsin’ Around?”. Na temporada seguinte, ele tem a chance de interpretar a vida de Secretariat, um ilustre cavalo por quem BoJack tinha grande admiração. Nada, contudo, parece satisfazê-lo.
BoJack Horseman, a série, é sobre o vazio. Aquele buraco que, por vezes, é escancarado e difícil de ser fechado. Alguém que tem tudo - ao que o trailer da terceira temporada indica, haverá possivelmente uma indicação para o Oscar -, mas ainda não se sente preenchido. Depressão, solidão e dependência (de alguém, algo ou o que quer que seja) comandam esse drama de humor estranho. E estranho é a melhor palavra para definir a animação.
De alguma forma, todos são BoJack Horseman em algum momento da vida. Em outros, o oposto dele. E o que fica claro é que o equino representa a sociedade contemporânea, suas necessidades e manias, melhor do que muito humano por aí.
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