Ao longo dos últimos cinco anos, tenho escrito sobre “Game of Thrones” a partir da perspectiva de alguém que leu – e releu – os romances “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin.
E ainda que possa não ser tão zelosa com a obra quanto pessoas como o meu amigo e colega e crítico Sean T. Collins, que publicou um dos guias abrangentes de teorias de fãs sobre os eventos e mitologia da franquia disponíveis, meu marido e eu discutimos sobre os episódios durante o café da manhã nas manhãs de segunda-feira.
Então, entrando nesta sexta temporada de “Game of Thrones”, estava tanto ansiosa quanto animada para assistir ao seriado sem um mapa da estrada.
É claro que houve um certo prazer em assistir à reação das outras pessoas à execução de Ned Stark (Sean Bean) ou à cegueira de Arya Stark (Maisie Williams), mas eu queria ficar chocada junto com todo mundo. E estava ansiosa para ver se as teorias a que eu e outros fãs vínhamos dando guarida por anos iriam se mostrar verdadeiras.
Mas, a um terço do caminho ao longo desse ano em “Game of Thrones”, o seriado parece com uma fábula moral, uma cuja conclusão é de que é possível analisar uma obra de arte demais, mesmo uma com as complexidades de trama e temas grandiosos necessários para resistir – ao menos por parte do caminho – ao escrutínio.
A um terço do caminho ao longo desse ano em “Game of Thrones”, o seriado parece com uma fábula moral, uma cuja conclusão é de que é possível analisar uma obra de arte demais, mesmo uma com as complexidades de trama e temas grandiosos necessários para resistir – ao menos por parte do caminho – ao escrutínio.
Jon Snow
Vamos pegar o desenvolvimento mais antecipado da temporada, o retorno de Jon Snow (Kit Harington) do mundo dos mortos pelas mãos de Melisandre (Clarice van Houten).
Na verdade, penso que tem havido muitas boas atuações durante esses momentos de grandes revelações. Nina Gold e Robert Sterne fizeram um trabalho excepcional no geral ao selecionar o elenco de “Game of Thrones”, ainda que Harington sempre tenha sido mais fraco comparado a Maisie Williams, Sophie Turner, Isaac Hempstead Wright e outros atores relativamente novatos do elenco.
Mas Harington nunca teve uma atuação tão forte quanto aquela de “Oathbreaker” (“quebrador de juramento”, em tradução livre), conforme o ar voltava a seus pulmões e ele reagia ao fato de que tinha retornado dos mortos com tanto choque e decepção quanto assombro. A jornada de Melisandre – de uma avassaladora falta de fé, a uma última tentativa desesperada de brandir o poder de seu deus, à esperança renovada – tem sido notável e sutil.
Espetáculo vs. imaginação
As escolhas de fazer da ressurreição de Jon um estudo de personagem em vez de uma ocasião para efeitos especiais chamativos e de alargar nossa percepção dos poderes de Melisandre em seus momentos de dúvida em vez de em seus momentos de feitiçaria foram astutas e sofisticadas. Mas elas também parecem estar se curvando ao inevitável: para os telespectadores Jon Snow esteve morto por um ano em tempo real, mas para os leitores dos romances ele foi apunhalado por seus irmãos jurados da Patrulha da Noite lá longe ,em julho de 2011, quando “A Dança dos Dragões” foi publicado.
Respeito os produtores de “Game of Thrones”, David Benioff e D. B. Weiss, mas não importa quantos espetáculos como aquele em “Hardhome” (“Durolar”) eles encenem, eles nunca conseguirão criar um cenário mais fantástico para a ressurreição de Jon Snow do que aquele que leitores de longa data inventaram para si mesmos.
As escolhas de fazer a ressurreição de Jon um estudo de personagem em vez de uma ocasião para efeitos especiais e de alargar nossa percepção dos poderes de Melisandre em seus momentos de dúvida foram astutas e sofisticadas. Mas elas também parecem estar se curvando ao inevitável: para os telespectadores Jon Snow esteve morto por um ano em tempo real, mas para os leitores ele foi apunhalado lá longe, em julho de 2011.Não importa quantos espetáculos eles encenem, eles nunca conseguirão criar um cenário mais fantástico do que aquele que leitores inventaram para si mesmos.
Algo similar está ocorrendo com as sequências da Torre da Alegria, nas quais Bran Stark (Hempstead Wright) e seu mentor visionário, o Corvo de Três Olhos (Max von Sydow) revisita a juventude de Ned Stark, incluindo seu confronto com Arthur Dayne (Luke Roberts) a respeito da irmã desparecida de Ned, Lyanna (Cordelia Hill). Essas cenas são bem produzidas! Elas nos deram um bom vislumbre de Lyanna, uma personagem relativamente enigmática nos romances de Martin, e afastou as teias de aranha da mitologia sobre o passado de Ned – e de Westeros. Mas não importa quão bem feitas sejam, parece inevitável que elas venham a confirmar o que muitos de nós já suspeitávamos, em vez de revelar algo verdadeiramente novo.
Não importa quão bem feitas as cenas sejam, parece inevitável que elas venham a confirmar o que muitos de nós já suspeitávamos, em vez de revelar algo verdadeiramente novo.
Náusea
E, nos pontos em que “Game of Thrones” se aventurou para longe do que nós já sabíamos ou podíamos adivinhar, o fez nesta temporada em enredos envolvendo Ramsay Bolton (Iwan Rheon), um personagem em relação ao qual definitivamente desenvolvi uma alergia.
O assassinato do pai de Ramsay, Roose Bolton (Michael McElhatton), de sua madrasta (Elizabeth Webster) e de seu irmão postiço, por suas próprias mãos, no episódio da semana passada, “Home” (lar), se livrou de um dos vilões mais memoráveis de “Game of Thrones”. E a decisão do Pequeno Jon Umber (Dean S. Jagger) de entregar Rickon Stark (Art Parkinson) e sua guardiã selvagem Osha (Natalia Tena) para Ramsay esta semana pôs termo a um dos fios da trama mais alongados dos romances de Martin.
Mas, seja lá quanta informação esses desenvolvimentos do enredo me deem, toda vez que Ramsay está na tela, sinto o mesmo medo nauseante. “Game of Thrones” pode usar Ramsay para avançar seu enredo, mas o seriado perdeu seu poder de usá-lo para provocar novas reações em mim ou para me fazer desejar que resultados diferentes advenham de suas ações.
Enquanto crítica, é claro, me deleito com as vibrantes discussões que cercam um seriado como “Game of Thrones”. Mas o fato de que a sexta temporada de “Game of Thrones” pareceu menos surpreendente para mim é uma lembrança de que pode ser melhor para mim simplesmente acompanhar seriados em vez de tentar resolvê-los.
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