Patricia Pillar, atriz de 52 anos, será vista pelo público a partir desta segunda-feira (4) na primeira grande aposta da Rede Globo para a programação de 2016, a minissérie “Ligações perigosas”.
A produção estreia às 22h20 e tem a atriz no papel da sedutora, amoral e manipuladora Isabel D’Ávila de Alencar.
“Ela tem um desejo de se sobrepor aos homens, de testá-los, e ganhar”, diz Patricia.
A personagem é a mesma vivida por Glenn Close no cinema, em 1988, numa das mais conhecidas versões, com direção de Stephen Frears, do clássico francês “Les liaisons dangereuses”. Adaptada agora pela autora Manuela Dias, a história, em dez capítulos, mostra o jogo de sedução e poder entre Isabel e seu ex-amante Augusto de Valmont (Selton Mello, no papel que foi de John Malkovich no cinema).
A versão para a TV terá suas doses de sensualidade. Mas nada tão explícito quanto “Amores roubados” (2014) e “Felizes para sempre?” (2015), produções exibidas pela Globo também em janeiro. Em “Ligações perigosas”, o sexo será mostrado de forma mais velada.
“Às vezes o que se oculta se torna muito mais instigante”, diz Patricia.
A atriz, que protagonizou momentos picantes ao lado de Cauã Reymond em “Amores roubados”, defende que na maioria das vezes o nu não é necessário para se contar uma história.
“Ligações perigosas” é ambientada nos anos 1920
Diretor-geral de “Ligações perigosas”, Vinícius Coimbra diz que a minissérie foi ambientada na década de 1920 por conta do comportamento libertino e transgressor da época. Originalmente passada na corte francesa pré-Revolução, a história foi adaptada por Manuela Dias para o Brasil de 1928. Mais especificamente, o litoral da região Sudeste, na fictícia Vila Nova. Sobre a opção de sugerir mais do que mostrar nas cenas de sexo, ele explica:
“Prefiro trabalhar com o implícito do que com o explícito. Eu me sinto trapaceando se mostro muito sexo ou violência. Acho que esvazia a obra. Há muita luxúria e manipulação no campo das ideias.”
Na trama, Selton Mello é Augusto de Valmont, ex-amante de Isabel (Patricia Pillar). Ela tem um caso com Heitor Damasceno (Leopoldo Pacheco), que a troca pela jovem e virgem Cecília (Alice Wegmann). Para se vingar, Isabel estimula Valmont a seduzir a menina. Mas ele ainda se envolve com a carola Mariana (Marjorie Estiano), que é casada.
“A minissérie trata do que o amor pode fazer com as pessoas. E quão perigosa pode ser uma relação amorosa”, diz Coimbra.
Sobre a escolha de Patricia Pillar para o papel, ele diz:
“Os homens babam pela personagem. Ela tem esse magnetismo. E muito glamour.”
“Mas não vejo problema quando é preciso”, acrescenta. “O nu não tem uma questão em si. O que interessa é se é pertinente, se a história pede ou se isso atrapalha. Quando banalizado, é feio. Eu questiono muito. Tudo. E soluções fáceis não me agradam. Tento provocar meus colegas para pensarmos em soluções que não tínhamos imaginado.”
Nas gravações da minissérie, Patricia conta que todos já foram para o set acreditando que “o mistério e as sombras” teriam mais a ver com os personagens. E compara a voltagem sexual entre “Amores roubados” e “Ligações perigosas”:
“Lá era outro tipo de sensualidade, de estímulo. Era mais o calor, o suor do sertão. Agora é mais cerebral, vamos mostrar como os personagens pensam. E eles têm uma cabeça erotizada.”
Para a atriz, Isabel e Augusto são complexos, imprevisíveis. E, principalmente, livres.
“As coisas ficam loucas no decorrer da história, e eles são levados ao limite.”
Isabel é uma mulher tão forte quanto a empresária Ângela Mahler, também vivida por ela em 2014, em “O rebu”. Após um ano em que o machismo e o papel feminino na sociedade voltaram a ser intensamente debatidos, Patricia diz que a sociedade vive mesmo em fluxos.
“Estamos neste momento estranho”, fala, sem se estender no assunto.
Vinda do teatro, a atriz estreou na TV há 30 anos, em “Roque Santeiro”.
“Mas ainda sou essa pessoa que quer conhecer coisas e pessoas novas.”
Considerada uma das mulheres mais bonitas do país, ela jura não se preocupar com a passagem do tempo.
“Essa é uma guerra perdida. Basear-se na aparência física é a receita para a infelicidade. É preciso ter outros valores para encarar essas dificuldades. É cruel mesmo. A TV te coloca muito próxima das pessoas, na casa delas. Essa proximidade te deixa muito acessível. Mas eu me sinto mais confortável assumindo minhas transformações, o que a idade traz”, diz ela, que faz análise há mais de 20 anos.
Patricia conta que encara de forma natural as mudanças de fase. A mesma mulher que se diz “empacada” diante das datas em que todos acham que devem estar felizes, como o carnaval, hoje está em paz com os festejos do aniversário que se aproxima.
“Com a idade você vai se planejando mais para aproveitar melhor o tempo, que vai diminuindo. Mas eu me sinto bem aos 52 anos. Não me sinto entediada, nem cansada.”
A atriz jura que detesta chamar a atenção ao chegar num lugar. Mas reconhece que sua timidez pode ir embora após dez minutos. Apesar de reservada – ela já disse que se casa e separa sem que ninguém fique sabendo e, diante da curiosidade do repórter sobre sua vida amorosa, mantém a resposta anterior –, afirma que se expõe de verdade no trabalho:
“É doloroso se colocar totalmente à disposição para estar no lugar de uma outra pessoa. A gente empresta o próprio corpo para isso, tudo que já viu e viveu. Tudo o que sou está ali. É mesmo muita exposição. Mas se não for assim não tem a menor graça.
O outro lado da exposição, porém, como ser flagrada por paparazzi na rua, é algo que a incomoda. Ainda hoje.
“É de um ridículo total, não sei qual o interesse nisso. Às vezes me irrito, é muito desrespeitoso em certas horas. É um furto a pessoa tirar uma foto fingindo que não está tirando. É falta de educação, de limite. Não concordo que as pessoas têm esse direito só porque faço um trabalho para o público.”
Ex-mulher do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, ela diz acreditar numa luz no fim do túnel caso as pessoas parem de se omitir, ao falar do atual momento político. E torce pelo afastamento imediato de Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados.
“Esse cara é o que há de pior.”