A pior pessoa do mundo é a definição utilizada por um personagem para resumir Richard Roper, o traficante de armas internacional que Hugh Laurie interpreta na nova The Night Manager, série que o canal AMC exibe às segundas-feiras, às 22h30, em seis episódios. “Ele é quase um psicopata”, diz o ator – que fez fama global com a interpretação brilhante em House. “É o pior personagem que eu já fiz.”
A história de Laurie com o enredo é longa: em 1993, o célebre escritor de espionagem John Lé Carré lançou o livro “The Night Manager”, no qual a série é baseada, encontrando no tráfico de armas um tema para superar a então acabada Guerra Fria, ambiente de seus livros anteriores. O ator inglês tentou comprar os direitos da obra, que mais tarde foram adquiridos pela Paramount, e até Brad Pitt chegou a se envolver: mas as 500 páginas do romance não cabiam em um filme de 100 minutos. Em 2015, BBC e AMC - o canal de Breaking Bad e Mad Men – juntaram forças pela produção.
“Li o romance quando foi publicado, em 1993, e amei a história”, diz um bem humorado Laurie, por telefone, de Los Angeles, ao jornal “O Estado de S. Paulo”. “Foi muito intrigante ler sobre um personagem, Johnatan Pine, em busca de uma causa para se definir a si mesmo. É comovente.”
No primeiro episódio – já exibido no dia 22 – Tom Hiddleston é Johnatan Pine, o gerente noturno (night manager) de um hotel no Cairo durante os protestos que marcaram a Primavera Árabe no Egito, em 2011. Meio por acaso, cai em sua mão a informação de que um conterrâneo seu, Roper, está vendendo armas em grande quantidades a ricaços do Egito pouco interessados na revolução popular. Sua alma de ex-soldado – e outros motivos – faz com que ele se envolva em um esquema de espionagem pouco simpático ao próprio governo britânico. Ele então acaba se misturando com Roper e seus comparsas – especialmente com Jed, interpretada pela bela atriz australiana Elizabeth Debicki.
Não tão lindo
Beleza também não é um problema para o Pine de Tom Hiddleston (uma cena em que ele tira a camisa chamou a atenção da imprensa internacional a ponto de a diretora dinamarquesa Susanne Bier ter que avisar: “eu sou sempre cautelosa ao trabalhar com atores bonitos. Mas ele é muito mais interessante do que sua aparência”, disse ela ao Guardian).
Pine, aliás, é o personagem que Laurie gostaria de ter interpretado. Mas ele explica: “O que eu queria era ser o cara jovem (risos). Mas acabei sendo o cara velho. Não posso fazer nada sobre isso, o tempo passa”. O ator britânico destaca a estranha relação de paternidade que começa se criar entre seu personagem, Roper, e o de Hiddleston, Pine. “É apropriado que, de um jeito, Roper está olhando de volta para sua própria juventude, aos sonhos que ele tinha, e tentando revivê-los através de Pine. Então talvez seja apropriado que eu queira ser Pine 20 anos atrás, e agora seja a figura paterna.”
Blues
Laurie – que tem gastado seu tempo livre entre fazer música (ele é um blueseiro de mão cheia que já lançou dois álbuns desde 2011) e assistir a documentários (“acho que atores devem olhar mais para as pessoas”) - também é um dos produtores executivos da série, como foi durante muito tempo em House. “Há algo como 600 dramas de televisão nos EUA hoje. O que é absolutamente demais para mim. Eu acho que 20 anos atrás, 60 já seria incrível. Mas 600? Como é que vamos achar uma audiência para todos esses shows (risos)?”, questiona.
Em uma carta aberta publicada pelo Guardian, o próprio Lé Carré escreveu sobre a série: “com todas as mudanças, o que de meu sobrou ali? A resposta, surpreendentemente, é: mais do que eu ousei esperar”. Laurie, aos risos: “É um grande elogio e um grande alívio”.