“Narcos”, que o Netflix estreia nesta sexta (28), foi produzida na Colômbia com dinheiro dos Estados Unidos e um elenco multinacional para conquistar um público global, tal qual o produto de que trata: a cocaína que correu fartamente pelo continente nos anos 80 e 90.
O resultado é gradativamente viciante não só para quem aprecia séries de ação, mas sobretudo para os que se interessam pela surrealista política regional nas Américas e história de forma geral.
Em dez episódios, o diretor brasileiro José Padilha (“Ônibus 174”, “Tropa de Elite”) narra a ascensão novelesca de Pablo Escobar, o chefe do cartel de Medellín, aqui interpretado magistralmente por Wagner Moura.
Nenhum criminoso da região inspirou a indústria cultural como Escobar (1949-1993), carismático, poderoso, sanguinário, engenhoso, rico e, por duas décadas, irrefreável até para a DEA, a agência antidrogas dos EUA.
Há tours temáticos com seu nome, e logo Tom Cruise somará seu poder à pilha de filmes, séries e livros sobre o chefão com “Mena”, que trata de um piloto do traficante.
“Narcos” sobressai do bolo pela obstinação quase jornalística e pela aposta no que virou traço central da ficção atual: o carisma do anti-herói, sem intenção de redimi-lo nem reduzir seus crimes.
Ao deixar seu protagonista se comover com um cão ao mesmo tempo em que manda matar inimigos com a casualidade de quem pede uma movimentação bancária, ao mostrá-lo dando dinheiro aos pobres e cooptando homens públicos, guerrilheiros e outros chefões com o mesmo truque, Padilha não matiza o legado de Escobar. Ele expõe sua extensão total.
Assim, constrói-se um retrato do crime organizado e da política na região com um resultado quase tão excelente quanto o obtido por Gabriel García Márquez no livro “Notícia de um Sequestro” (1996).
Não menos importante, “Narcos” questiona a política dos EUA para o narcotráfico, corresponsável pela dimensão que a violência e o poder dos traficantes tomou.
Em um truque inteligente, adota o ponto de vista de um agente americano e uma edição esperta com imagens de arquivo de discursos dos ex-presidentes americanos Ronald Reagan (1981-89) e George Bush (1989-93).
O único ponto fraco é a escolha de Boyd Holbrook para interpretar o agente americano que conduz narrativa.
Moura, o chileno Pedro Pascal (o Oberyn de “Game of Thrones”), o portorriquenho Luiz Guzmán (que faz 90% dos bandidos mexicanos em filmes holywoodianos) e notadamemte o mexicano Raúl Mendez (de “Sense8”, como o presidente César Gaviria) estão soberbos.
Confira o segundo trailer da série, com legendas em português:
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