Esta não foi uma segunda-feira fácil para Marcus Laitano, 20 anos. Ao acordar, antes mesmo de sair da cama, ele percebeu que suas redes sociais viraram uma avalanche de comentários sobre o último episódio da sexta temporada de Game of Thrones (GoT), veiculado no canal pago HBO na noite de domingo (26). Na faculdade foi pior: seu círculo de amigos não tinha outro assunto que não fossem cabeças rolando, reviravoltas e batalhas épicas. Tentou mudar o foco das conversas, puxou um empolgante papo sobre o clima. Seguiu então para o trabalho e, adivinhe, ouviu mais uma penca de vezes os nomes Jon Snow, Sansa e Daenerys etc. Terminou o dia não suportando mais ouvir sobre o tema que, para ele, encerrou-se seis temporadas atrás:
“Parei no primeiro episódio. Não curti”, conta Marcus.
Quando o assunto é Game of Thrones, série acompanhada por 23 milhões de espectadores somente nos Estados Unidos (a audiência brasileira não é revelada), o estudante de Publicidade e Propaganda é um estranho no ninho – um outsider, alguém que não segue a tendência de comportamento do meio pelo qual circula. Não é nada grave. Afinal, o que seria do mundo se fulano, sicrano e beltrano fizessem as mesmas coisas? Tem gente que não gosta de futebol, outros não têm Facebook, e há ainda os contrários ao uso do celular. Cada um com suas escolhas, e está tudo bem. Ou quase tudo. Porque as segundas de Marcus...
Estratégia para se manter alheio
Assim como para Marcus, Jéssica Jank, 27 anos, também parou no primeiro episódio. E para aguentar todas as dezenas seguintes, criou uma tática: finge que está acompanhando.
“E aí, quando alguém vem querer comentar sobre o que aconteceu no último episódio, eu só digo: “Ah, não conta! Eu ainda não vi!”. E as pessoas param de falar na hora. É uma grande estratégia”, brinca Jéssica, que só sabe que na série “morre uma galera”.
Os dois outsiders terão meses de folga a partir de hoje, já que a sétima e última temporada de GoT só volta no primeiro semestre do próximo ano. Mas, sabem eles, nem tudo serão flores:
“Agora começa a sessão das teorias. Tem aqueles que vão rever a série e buscar novas explicações e fazer análises e tentar encontrar mais detalhes “, adianta Marcus, já entediado.
“Acabaram virando dias em que tenho de ficar quieto em vários momentos. Fico sobrando. Consigo acompanhar um pouco dos comentários que meus colegas fazem, porque a gente acaba sabendo da série por osmose. Todo mundo fala. Mas quando entram nos detalhes, aí complica”, conta o jovem, também conhecido como “hater” entre os amigos, adjetivo utilizado para definir as pessoas que postam comentários críticos ou “irritadinhos” nas redes sociais.
“Novela mexicana”
E não deixa de ser um adjetivo apropriado. Quando Marcus é desafiado a descrever GoT, é isso o que sai: uma “perturbadora novela mexicana”. De tudo o que já ouviu por aí, deduz que toda a trama da série gire em torno de “uns querendo dominar o reino dos outros” e “orgia sexual entre irmãos”, diz ele. E mais: “Lobos comem pessoas” e “Jon Snow seria um sex symbol”. Fim. Este é o resumo de tudo que chegou ao jovem de maneira arbitrária, como ele descreveu em seu perfil no Facebook.
“Quando o relógio bate uma da manhã (do domingo, horário em que é transmitido GoT), eu já preparo meus olhos para o inevitável: quem morreu, quem ficou vivo... Quem fez sei-lá-o- quê-se-faz nesse mundo deles. E ainda preparo meu coração para confortar quem não possui o mais importante título na nossa sociedade, algo que com certeza esse tal de Stark gostaria de ter: o sinal da HBO.”
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