Dentro de uma sala fechada, um grupo de jovens passa por um teste de sobrevivência no qual um deles será “eliminado”. É mais uma etapa do “Processo”, seleção pela qual os personagens de “3%”, primeira série brasileira da Netflix, com estreia marcada para o dia 25, passarão para conseguir migrar do Continente, território onde faltam bens de primeira necessidade, para o Mar Alto, onde os privilegiados vivem cercados de conforto. Estamos no Brasil do futuro, pós-apocalíptico, no qual a palavra de ordem é “meritocracia”.
A cena descrita acima foi gravada em abril, em um estúdio na Zona Oeste de São Paulo. Os personagens envolvidos são jovens em torno dos 20 anos, todos oriundos do miserável Continente. Nessa idade, eles recebem uma chance de melhorar de vida e ganhar acesso ao luxuoso Mar Alto. Para isso, são submetidos a provas físicas e testes psicológicos, uma espécie de “peneira” da qual sobrarão apenas 3% dos candidatos - daí o título da série, cuja primeira temporada terá oito episódios, todos disponíveis aos espectadores desde o lançamento.
Inspirada em uma websérie escrita e produzida por Pedro Aguilera em 2009, “3%” ganhou outro conceito e outra dimensão na Netflix. Saíram as angústias juvenis com o vestibular e as aulas de direção e entraram questões mais amplas, como a luta pela sobrevivência em um mundo dividido e desigual:
“Acho que tem muito a ver com a nossa visão política do que é a sociedade em que vivemos. Não exatamente do que aconteceu em 2016, mesmo por que a série vem de antes”, observa Aguilera. “O tema da meritocracia é típico da nossa sociedade e vai durar décadas. A gente tem mais ferramentas para falar disso. É um problema que está aí faz tempo e não vai ser resolvido agora.”
Com direção-geral de César Charlone, “3%” traz como protagonistas João Miguel e Bianca Comparato. Miguel faz o papel de Ezequiel, que coordena o “Processo”; Bianca interpreta Michele, que está entre os candidatos a ascender ao Mar Alto. No grupo de jovens estão ainda o ator Rodolfo Valente como Rafael; Vaneza Oliveira como Joana; Michel Gomes como Fernando, e Viviane Porto como Aline.
Brasilidade
Conhecido por assinar a fotografia de “Cidade de Deus” e de “Ensaio sobre a cegueira”, Charlone disse que, quando foi chamado para dirigir a série, buscou imprimir mais “brasilidade” e mais cores à narrativa:
“Esses filmes e essas séries distópicas são sempre muito cinzas, muito pra baixo. A gente procurou colocar mais humor e mais cores nos episódios, além de fazer com que os personagens representassem a diversidade étnica brasileira”, diz.
O diretor-geral da série diz que, para conseguir mais agilidade na edição e deixar os atores mais livres para interpretar, trabalhou com várias câmeras nas gravações. A utilização de efeitos também foi restrita, para que a estética não ficasse dependente da computação gráfica, como acontece em muitos filmes e seriados de ficção científica:
“Trabalhamos muito na preparação de atores. A ideia era deixá-los livres e apenas documentar o que eles faziam, interferindo o menos possível. Para isso, usamos várias câmeras, de vários formatos e tipos de captação. Não fomos tão rigorosos com a luz. Na edição, fazíamos uma garimpagem das melhores imagens e ângulos. Com relação aos efeitos, a inspiração foi “Black mirror”, que também tem uma estética muito enxuta, apesar de ser ficção científica.”
Seleção Não Natural
Bianca Comparato foi uma das primeiras integrantes do elenco a ser convidada a participar da série. Ela conta que, nos primeiros tratamentos do roteiro, uma das principais características de sua personagem era o uso de suas capacidades físicas. Para conseguir acompanhar o ritmo das filmagens e estar em forma para representar Michele, ela chegou a fazer aulas de luta.
“Nunca tinha feito isso na minha vida. Havia muitas cenas de ação, que no decorrer do desenvolvimento da série foram caindo. Como era um investimento meu, continuo fazendo. Além do corporal, tem um aspecto psicológico. Trabalhei isso muito na preparação para dar verdade ao que estávamos vivendo.
Para Bianca, a série “amadureceu” na adaptação, ao investir em uma abordagem mais política.
“Antes, era uma coisa baseada nas angústias adolescentes. Hoje, amadureceu muito e fala de uma coisa mais política, que tem a ver com a sociedade e o mérito, essa seleção não natural de quem merece ter oportunidades. Eu, o João e outros atores conversamos muito sobre isso.”
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