A série ‘Designated Survivor’ é exibida pelo canal ABC nos Estados Unidos e distribuída pela Netflix no resto do mundo. A premissa é bastante original. Um atentado durante o discurso sobre o Estado da União, quando o presidente apresenta um relatório para todo o congresso, elimina todo o alto comando americano. Não sobra ninguém. Presidente, vice, juízes, senadores, deputados: todos mortos.
Neste cenário caótico, o novo presidente é Tom Kirkman, secretário de habitação e urbanismo, que estava em um lugar protegido com a mulher, Alex, justamente para o caso de uma tragédia assim ocorrer. Ele é o que chamam de “designated survivor” ou “sobrevivente designado”, alguém na cadeia de comando que é colocado a salvo em ocasiões especiais. Obviamente, nunca se espera que um dia efetivamente ele seja chamado ao dever.
Por sugestão da primeira-dama, Marcela Temer, o presidente Michel Temer assistiu aos dez capítulos que compõem a primeira temporada da série. E, conforme apuraram as repórteres Simone Iglesias e Catarina Alencastro, do jornal ‘O Globo’, vossa excelência gostou. Como bem lembrou Elio Gaspari em sua coluna no mesmo jornal, Temer tem uma história diametralmente oposta à de Kirkman. Enquanto o personagem encarnado por Kiefer Sutherland nada teve a ver com o desastre que o colocou no cargo, Temer foi peça fundamental na conspirata que o levou à presidência.
Essa não é, porém, a maior discrepância entre Kirkman e Temer. Logo ao ascender à presidência, o inexperiente Kirkman é posto à prova várias vezes por forças internas e externas que desejam testá-lo. Como em um cabo de força, precisam ver até onde é possível puxar sem que o inimigo reaja à altura. Mesmo vindo de um cargo inexpressivo dentro do xadrez de poder da capital federal americana, Kirkman consegue lidar bem com todas as provações que aparecem em seu caminho.
O motivo da inesperada desenvoltura é simples: o protagonista da série age por convicção, com base em valores republicanos, até com certa ingenuidade, mas sem abrir mão do que acha certo. Quando vacila, é na esperança de ganhar tempo para proteger seus cidadãos.
Desde o início do governo Temer, o que vimos foi o oposto. Mesmo sendo uma raposa velha em Brasília, o presidente brasileiro se mostrou vacilante e fraco diversas vezes, leniente com casos de corrupção no seio de governo, caminhando ele próprio na corda-bamba da Lava Jato. Escolheu ministros sem nenhum mérito técnico — assim como fazia sua antecessora, outra governante de personalidade débil —acochambrando em sua equipe gente como Eliseu Padilha e Ricardo Barros, que definitivamente não estão lá para fazer um Brasil melhor.
O seriado mais adequado para Temer, por mais que pareça um baita de um lugar comum, é mesmo House Of Cards. Mas mesmo para ser um Frank Underwood falta feijão ao presidente. Underwood pensa rápido e articula com destreza em um congresso dividido entre republicanos e democratas. Temer, diferentemente de Underwood, navega na calmaria de um congresso unido pelo fisiologismo patológico, onde o maior interesse não combina necessariamente com o da população.
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