A nova temporada de True Detective estreará neste mês. Aclamada em seu primeiro ano, quando Matthew McConaughey e Woody Harrelson interpretaram dois detetives conflituosos, a série obteve um retorno crítico invejável. Quando retornar, no entanto, nenhum de seus personagens estará lá: com nova trama e outros seres ficcionais, a criação de Nic Pizzolatto seguirá uma linha semelhante à de American Horror Story, ou seja, um ambiente diferente por temporada.
Renovar a narrativa a cada ano, ou em todo episódio, vide a excelente Black Mirror, livra os produtores de um seríssimo problema, do ponto de vista logístico: atores. E ao afirmar que atores podem ser um problema, não me refiro à questão mais caricata quando pensamos no estereótipo de um profissional hollywoodiano, isto é, a crises histriônicas de alguma prima donna – homem ou mulher – com o ego infinito. A questão é de fato logística.
Quando uma série ganha visibilidade, é natural que seus atores recebam ofertas de outros projetos. Entre uma temporada e outra, o calendário de cada componente do elenco pode sofrer alterações drásticas, as quais oferecem sempre o risco de comprometer a manutenção do produto. Na última (e constrangedora) temporada de How I Met Your Mother, o personagem Marshall, por exemplo, passou metade dos episódios longe dos demais, isso porque o ator Jason Segel estava ocupado com longa-metragens. Contratos podem ser outra dor de cabeça, visto que demandas salariais de um período estão sempre sujeitas a um aumento exponencial.
Além dos casos explícitos – Dexter não poderia simplesmente se livrar de Dexter Morgan, como House M.D jamais cortaria House – boa parte das séries depende de algum núcleo fixo. Basta lembrar o desequilíbrio causado em Prison Break, anos atrás: a atriz Sarah Wayne Callies e a produção não chegaram a um acordo quanto à renovação de contrato, e então a personagem foi morta. Diante da resposta estrondosamente negativa dos fãs, a temporada seguinte contou com o retorno de Sarah, resgatando-a em uma tremenda continuidade retroativa, aquele artifício narrativo de reescrever uma história já contada.
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Condicionais
Aliás, falando em House M.D, o ator Kal Penn teve que abandonar suas funções no seriado estrelado por Hugh Laurie para assumir um cargo na Casa Branca. A solução? Seu personagem “foi suicidado”, uma escolha totalmente desconexa ao enredo, e que exemplifica como é estar sujeito a atores específicos para o motor engrenar.
Ainda que algumas séries preparem seu público a não se apegar às criaturas – elas podem ser comidas por zumbis, ou trabalhar na polícia de Baltimore, ou simplesmente aparecer em Game Of Thrones–, é inegável que a maior parte depende um tanto de seus atores principais. Se American Horror Story e, agora, True Detective sofrem desvantagens por seguir outra linha, essas talvez surjam na própria iconização, afinal é mais provável que algum elemento recorrente por anos se consagre na cultura popular, em relação a um personagem de uma, duas dezenas de episódios. Em outras palavras, nem é necessário assistir The Walking Dead para saber que Rick Grimes é seu herói.
Por outro lado, a renovação obrigatória permite elaborar um fechamento digno ao enredo, ao invés de arrastar ideias gastas por temporadas, seguindo a lógica de continuar uma série aos trancos, desde que ela traga retorno financeiro.
Qual um bom livro de contos, a degustação de capítulos divergentes jamais atrapalhará a densidade do título como um todo.
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