“Três é Demais” nunca foi exemplo de TV de primeira qualidade. A história de um viúvo (Bob Saget) que recruta o irmão músico (John Stamos) e o melhor amigo comediante (Dave Coulier) para ajudar na criação das três filhas era uma montanha-russa de sacarina, lições de moral e piadas inocentes.
Combinação que normalmente passaria longe da Netflix, casa de séries ousadas e adultas como “Orange Is the New Black” e “House of Cards”, certo? Errado.
De olho na diversificação do perfil de seu público, o serviço de vídeo sob demanda traz a sitcom de volta, 21 anos após “Três é Demais” ter sido abruptamente cancelada.
Os 13 episódios de “Fuller House”, que estreia na Netflix nesta sexta (26), resgatam a família Tanner em meio a uma reviravolta: D.J. Tanner (Candace Cameron), adolescente na série original, cresceu e agora precisa recorrer à irmã, Stephanie (Jodie Sweetin), e à melhor amiga, Kimmy Gibbler (Andrea Barber), ao se ver sozinha com três filhos após a morte do marido.
“Comecei pensando como seria engraçado ver aquelas garotas que todo mundo conhecia criando os próprios filhos”, diz à reportagem o criador das duas séries, Jeff Franklin.
Mas a virada não foi tão bem recebida pela Warner, em 2007, quando Franklin começou a bater na porta do estúdio para resgatar a série.
Apesar de “Três é Demais” ter atingido a marca de 24 milhões de espectadores em seu auge e 17 milhões no último ano, as renovações dos contratos do elenco elevaram o orçamento de cada episódio para US$ 1,3 milhão, o dobro dos custos de uma sitcom em meados da década de 1990.
Trazer a comédia de volta renderia bons números, mas como lidar com as possíveis pedidas de salários milionários por parte de Stamos, Saget e, principalmente, das gêmeas Mary-Kate e Ashley Olsen, que ganharam fama mundial após viverem a caçula Michelle Tanner na sitcom?
Tudo mudou em 2015, quando a Netflix viu a chance de lucrar com o revival de séries como “Arrested Development” e deu sinal verde para a produção de “Fuller House”.
“O apelo global de ‘Três é Demais’ é incrível”, afirmou Ted Sarandos, chefe de conteúdo da Netflix durante evento no mês passado. O objetivo parece claro: números.
O trailer foi visto por mais de 14 milhões de pessoas no YouTube, recorde para a Netflix, e o anúncio de novas temporadas não será uma surpresa.
O primeiro episódio traz todo o elenco original de volta, menos as Olsen - que abandonaram a atuação pela carreira na moda, algo que o roteiro alfineta logo de cara.
E os novos fãs, vão adotar o humor retrógrado, com claque, de “Fuller House”?
“A original não era a série mais bem escrita da história, mas a química dos atores era única”, admite Jeff Franklin. “Agora, o tom é um pouco mais adulto, mas os pais ainda podem confiar em deixar os filhos em frente à TV, porque é um show para toda a família. Há poucas séries hoje em dia que podem dizer isso.”