Em 2000, Cameron Bruce Crowe deixou sua marca como diretor, roteirista e produtor com o filme “Quase Famosos”, que relatava as experiências de um jovem jornalista musical que acompanhava a banda fictícia Stillwater em uma turnê pelos Estados Unidos.
O longa-metragem, inspirado na adolescência de Crowe, quando foi jornalista da revista Rolling Stone e conviveu com bandas como Led Zeppelin e Lynyrd Skynyrd, mostra a vida de sexo, drogas e rock ‘n’ roll comum aos rockstars da época.
VÍDEO: Veja o trailer oficial da série “Roadies”
Dezesseis anos depois, o diretor voltou a investir na temática com a série de televisão “Roadies”, do canal Showtime, que estreou nos Estados Unidos no dia 26 de junho.
Com produção de J.J. Abrams, desta vez a história acompanha os bastidores de uma turnê em arenas, tendo como foco a equipe que trabalha por trás dos palcos de uma banda de rock.
A estreia acontece no momento certo, já que a HBO anunciou, há apenas alguns dias, que a única possível concorrência de audiência, a série “Vinyl”, foi cancelada após a primeira temporada.
E apesar de “Roadies” parecer ser uma esperança para os fãs de música à procura de uma nova série para acompanhar, uma segunda olhada na produção faz com que ela pareça inofensiva perto da criação de Martin Scorsese e Mick Jagger.
Por mais que a denominação “roadie” normalmente seja atribuída aos responsáveis pela montagem de palco e equipamentos de som, dois dos personagens principais são o coordenador da turnê Bill (Luke Wilson) e a produtora da banda Shelli (Carla Gugino) - que inicialmente seria interpretada por Christina Hendricks, que desistiu do papel por “questões criativas”.
Discursos clichês
Completam o elenco a jovem Kelly Ann, na dúvida entre continuar o trabalho como roadie ou estudar cinema em Nova York; seu irmão gêmeo Wes (interpretado por Richard Colson Baker, conhecido como o rapper Machine Gun Kelly), que é demitido pelo Pearl Jam e se junta à equipe; a engenheira de som Donna Mancini; o representante da gravadora Reg Whitehead, que aparece nos bastidores para fazer cortes na equipe; o estranho Milo, técnico responsável pelos baixos e guitarras; o motorista do ônibus de turnê Gooch; e Phil, conhecido por sua experiência na estrada com bandas como Lynyrd Skynyrd.
E ainda que alguns destes personagens pareçam interessantes de início, surpreendentemente a série peca na honestidade das atuações. Os discursos clichês sobre a necessidade de integridade na música ou as injustiças da indústria musical parecem ainda mais piegas considerando que essa deveria ser uma série sobre os bastidores de uma banda de rock.
A presença de uma figura conhecida como a “perseguidora da banda” parece ser o último suspiro do episódio de estreia, ainda que o termo seja usado apenas para desviar do fato de que ela é uma tentativa frustrada de ser a groupie Penny Lane, do filme “Quase Famosos”. Seus trejeitos são exagerados ao ponto de torná-la artificial, um tiro nada certeiro para quem estava mirando na atuação incrível de Kate Hudson como Penny - que, inclusive, lhe rendeu um Golden Globe.
Tendo em vista que essa é uma temática recorrente na carreira de Crowe, é irônico que por mais que toda a equipe demonstre paixão por seu trabalho - e, acima de tudo, pela música -, a trama parece focar mais nos problemas pessoais e no suposto romance entre Bill e Shelli do que efetivamente mostrando o cotidiano dos roadies, que é a proposta da série.
E no trailer oficial da nova produção, a citação a uma frase do músico Tom Petty parecia dar o tom para os episódios: “Eu acho que o público geral não faz ideia do que os roadies fazem. Abençoe todos eles. Eu apenas toco as músicas. Eles fazem o show acontecer”.
Mas se formos levar em consideração o primeiro episódio, o público geral vai continuar sem saber.
Veja o trailer oficial da série
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião