Um resumo afiado e direto de uma lúgubre história real de crime que se estendeu por 10 anos, o documentário do Netflix “Amanda Knox” merece crédito pela concisão.
Esse filme ágil e densamente econômico de Rod Blackhurst e Brian McGinn pode parecer redundante para aqueles que perseguiram cada palavra do caso da personagem que dá nome à obra, uma estudante universitária americana que foi condenada pelo assassinato de sua colega de quarto britânica, ocorrido quando as duas eram intercambistas na Itália em 2007.
Mas mesmo aqueles familiarizados com a história de Knox têm a probabilidade de retirarem de “Amanda Knox” uma compreensão mais profunda da jovem que se tornou conhecida como “Foxy Knoxy” (knoxy gatinha), e que foi acusada de tudo desde orgias alimentadas a drogas a assassinato a sangue frio. Quase uma década depois, reflexiva e com uma visão clara, ela é um exemplo contundente do caos que resulta quando instituições da justiça criminal e jornalismo privilegiam emoção em detrimento de fatos.
Além de entrevistas atuais com a mulher que é tema do filme – que agora vive em aparente normalidade em Seattle – “Amanda Knox” não cobre muito terreno novo. Revisitando os eventos horríveis de dois de novembro de 2007, o filme reconta como Knox chegou à Itália como uma otimista jovem de 20 anos; como conheceu sua colega de quarto Meredith Kercher e seu namorado Raffaele Sollecito; como ela e Sollecito encontraram a cena do crime; e, em parte porque eles estavam “inapropriadamente” beijando-se e abraçando-se na frente da polícia, como eles vieram a ser acusados de esfaquear Kercher até a morte com uma faca de cozinha.
O que é novo em “Amanda Knox” são as macabras imagens do chão e paredes ensanguentadas do quarto de Kercher, bem como do pé de Kercher exposto para fora de um lençol. Espectadores também encontram alguns personagens centrais da trama que emergem como figuras tão perfeitas para seus papeis que poderiam ter sido contratados em uma agência de casting: Guiliano Mignini, o promotor italiano que obtém inspiração para sua atuação profissional de romances de detetive e de Sherlock Holmes; e Nick Pisa, um repórter oportunista britânico que compara a excitação provocada por suas sugestivas matérias de primeira página sobre Knox com sexo.
Parte Camus, Parte Kafka, “Amanda Knox” investiga questões que outros documentários mais ambiciosos exploraram nos últimos anos, desde o aparentemente insaciável apetite da mídia por “garotas más” em “Amy” até os desastrosos procedimentos policias e judiciais de “O.J.: Made in America”. E os cineastas perderam a oportunidade de trazer Knox para narrar as supostamente danosas imagens dela abraçando-se com Sollecito, para que os espectadores pudessem ouvir de primeira mão o que ela estava pensando naquele momento, e como se sente a respeito disso agora.
Ainda assim, esse é um absorvente e valioso história com uma moral que é particularmente oportuna quando a linha entre a percepção coletiva e a realidade parece mais frágil – e mais importante – do que nunca.
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