Assistir a “Os Dez Mandamentos” no cinema traz uma sensação de velocidade. Para comprimir os 176 capítulos em duas horas, foi mantida apenas a trama principal, que mostra Moisés desde o nascimento até o início da peregrinação à frente dos hebreus pelo deserto.
Obviamente, isso é feito em ritmo acelerado. Por exemplo, os 40 anos que ele passa numa aldeia no deserto sendo lapidado até receber o chamado para libertar seu povo se passam em 5 minutos.
É diferente de decidir contar essa mesma história em duas horas e escrever um roteiro especialmente para isso, com um maior trabalho de dramatização do personagem em apenas alguns pontos escolhidos a dedo. A ideia de “resumo” traz em si o gérmen da superficialidade.
Para fãs, telona amplia drama dos personagens
Quem gostou da novela “Os Dez Mandamentos” e decidiu ver a versão cinematográfica tem grandes chances de aprovar o resultado.
Leia a matéria completaA longa duração da novela, exibida durante nove meses de 2015 pela Rede Record, se sustentou em tramas paralelas que foram suprimidas no filme. Eram algo que ampliava o drama, contando a história de amores impossíveis, mães dilaceradas pela dor, reencontros.
Uma qualidade da produção do folhetim foi mantida na edição cinematográfica: as cenas externas em cavernas, dunas, rochedos, ante um amplo céu azul. As filmagens no deserto do Chile e interior do Rio de Janeiro impactaram pela diferença em relação ao quarto-e-sala alternando elite e favela a que estamos acostumados nas novelas tradicionais.
Outro ponto forte do filme foi acelerar trechos que haviam sido propositalmente, sofridamente alongados: as pragas que Deus lança como sinais para que o Faraó liberte seu povo; a perseguição dos egípcios aos hebreus no deserto e a apoteótica abertura do Mar Vermelho, que durava uma semana.
A inserção de poucas cenas inéditas ao final funciona como “cenas do próximo capítulo”, deixando o arremate totalmente aberto. Elas incluem efeitos especiais lapidados em Los Angeles e o aparecimento do personagem Josué como narrador, numa manobra excessivamente didática. Ele será o substituto de Moisés na continuação da trama, ainda sem data de estreia na televisão.
O maior problema estético pode ser considerado a voz de Deus. Tudo bem que a produção se destina a ensinar sua palavra, mas é duro ouvi-la em alto e bom som canastrão. Como diria o profeta Elias, é preferível quando ele sussurra na suave brisa ao seu redor.
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