A diversidade étnica é uma das marcas do Paraná, que abriga colônias e comunidades de diversas culturas. Muitos desses povos, principalmente italianos, japoneses e poloneses, já foram retratados de alguma forma no cinema, em filmes realizados no estado por diretores descendentes como Tizuka Yamasaki e Sylvio Back. A próxima etnia focada pelo audiovisual paranaense será a dos ucranianos, que será tema do documentário Made in Ucrânia – Os Ucranianos no Paraná, uma das propostas de telefilme premiadas pelo primeiro edital de cinema e vídeo do governo estadual.

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A produção iniciou esta semana a fase de montagem, segundo informa o diretor Guto Pasko, idealizador do projeto. Descendente de ucranianos, ele conta que a realização do filme é um sonho antigo, uma espécie de acerto de contas com seu passado: "Eu me desvinculei da comunidade muito cedo. Com 11 anos tive uma briga com meu pai por questões religiosas, ele queria que eu fosse padre. Fiquei meio revoltado com a história toda, mas, depois que a gente amadurece, passa a entender esse conjunto de valores éticos, religiosos e culturais da comunidade, a ver as coisas por outro aspecto".

A proposta de Pasko é fazer um resgate histórico do povo ucraniano no Paraná, desde a chegada dos primeiros imigrantes até hoje. A primeira leva de imigrantes chegou ao Brasil entre 1895 e 1897. Os outros movimentos de imigração aconteceram na Primeira e na Segunda Guerra Mundial. "A comunidade de ucranianos no Brasil tem cerca de 400 mil pessoas e a maioria vive no Paraná. Há grandes colônias também em São Caetano do Sul (SP), Canoas (RS) e na região de Itaiópolis (SC)", informa o diretor, que realizou filmagens nas cidades paranaenses de Prudentópolis, Antônio Olinto, União da Vitória, General Carneiro, Mallet, Ponta Grossa, Curitiba e na Colônia Marcelino, em São José dos Pinhais.

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O documentarista lembra que cada uma das três levas de imigrantes chegou em circunstâncias diferenciadas, com tipo distintos de pessoas. "Como eles se organizaram em comunidades no Brasil, sobretudo em colônias rurais, no início? Como estão atualmente e como preservaram as tradições religiosas e folclóricas, a língua, a culinária?", cita algumas abordagens do filme.

Viagem à Ucrânia

Para tornar mais completo o trabalho, Pasko foi à Ucrânia, para mostrar como o país está atualmente. A visita foi realizada com recursos próprios, pois a verba do projeto (R$ 180 mil) não contemplava a viagem – pelo edital, ele também não poderia captar outros apoios financeiros para fazer o documentário. "Se eu não fosse para a Ucrânia, não conseguiria fazer o filme do jeito que quero. Queria fazer um paralelo entre a Ucrânia atual e a comunidade no Brasil. Gastei mais de R$ 40 mil, vendi carro, essas coisas malucas que fazemos para realizar um filme", afirma ele, que contou com apoios diplomáticos de órgãos públicos ucranianos no Brasil e na própria Ucrânia que lhe abriram muitas portas na viagem.

O paranaense passou 15 dias no país europeu com sua equipe de produção, visitando várias cidades (Kiev, Ternópil, Zarvanytsya, Lviv, Strey, Zhovkva, Krékhiv) e entrevistando pessoas com vínculo com o Brasil. A estada coincidiu com as comemorações da independência da Ucrânia, que se tornou ex-república soviética em 14 de agosto de 1992. "Fui nas aldeias rurais de lá e pude perceber que, depois de quase 110 anos das pessoas migrarem para o Brasil, a situação desses locais não mudou muito", revela. Ainda na Europa, Pasko realizou entrevistas em Portugal (Lisboa e Fátima), país que abriga boa parte dos que imigram da Ucrânia hoje em dia.

Made in Ucrânia foi realizado em HDV – formato que grava imagens em alta-resolução, com qualidade próxima à do filme em 16mm –, pois tem intenção de dar continuidade ao projeto, ampliando-o para um longa-metragem (o telefilme terá 52 minutos) e fazendo o transfer para película 35mm.

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