Obras-Primas
Saiba mais sobre os três filmes mais marcantes da carreira de Norma Bengell
Os Cafajestes
Escrito e dirigido pelo moçambicano Ruy Guerra em 1962, Os Cafajestes integra o imaginário do cinema nacional. Aqui, Norma interpreta Leda, uma mulher chantageada e um bom tanto confusa. A sintonia entre ela e Jece Valadão, no ápice de sua carreira, conferiu ao cinema da época uma nova diretriz conceitual.
O Pagador de Promessas
Escrito por Dias Gomes um texto de notas sócio-regionalistas, bem ao pé do Segundo Modernismo o longa-metragem, também de 1962, dirigido por Anselmo Duarte, é o único nacional a ter vencido a Palma de Ouro em Cannes. Norma interpreta uma prostituta que praticamente ilumina todas as cenas em que aparece.
Noite Vazia
Um dos filmes mais melancólicos e bonitos de nosso cinema, o auge de Walter Hugo Khoury na direção, na melhor tradição do cinema italiano da impossibilidade. Especializado na direção de atores, ele retirou de Norma um sentido e uma profundidade até hoje sem muitos parâmetros em nossa filmografia.
Ela tinha um longo nome feito uma rainha portuguesa e foi um marco na história do cinema nacional, principalmente nos anos 1960, onde integrou, ao menos, três obras-primas. Era a nossa Brigitte Bardot. Cantou, compôs, dirigiu filmes e morreu quase como uma desterrada após passar por processos judiciais milionários e desentendimentos com a classe artística. Há um ano, morria, no Rio de Janeiro, Norma Aparecida Almeida Pinto Guimarães dÁurea Bengellé, mais conhecida como Norma Bengell.
Nascida em 21 de fevereiro de 1935, Norma despontou cedo como cantora. Seu primeiro sucesso, em 78 rpm, foi "A Lua de Mel na Lua" e "E Se Tens Coração", que integraram o filme Mulheres e Milhões, de Jorge Ilely. Em 1959, lançou Ooooooh! Norma, seu primeiro LP, com pegada bossa-novista. Estreou como atriz em 1959, em alto estilo, ao lado de Oscarito, no clássico O Homem do Sputnik.
Mas é em 1962 que ela chuta a porta do establishment com Os Cafajestes, de Ruy Guerra, responsável pelo primeiro nu frontal do cinema brasileiro, o que lhe rendeu a ira de setores mais conservadores. Sua participação em O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, como a prostituta Marli, é antológica, e levou-a a trabalhar em diversas produções internacionais. Em Noite Vazia, de Walter Hugo Khoury, realizado em 1964, interpreta Regina, uma meretriz complexa, naquele que é, possivelmente, o filme nacional mais existencialista de todos os tempos, quando Khoury encontra Antonioni.
Altos e baixos
No fim dos anos 1960, Norma teve diversos problemas com a ditadura. Em 1968, a montagem de Cordélia Brasil, de Antônio Bivar onde também interpretou uma prostituta chegou a ter dia de bomba dentro do teatro, e a levou a ser interrogada por "subversão". Nos anos 1970, exilou-se na França e fez alguns papéis na televisão, mas sem grande destaque.
Na década seguinte, oscilou entre escolhas duvidosas e os primeiros passos na direção. Chegou a interpretar uma plantadora de bananas que "escraviza" Mick Jagger no infame Shes the Boss e dirigiu Eternamente Pagu, sua honesta visão da artista plástica e jornalista Patrícia Galvão. Acusou o meio cultural, à época, de misoginia e de brecar o crescimento de cineastas mulheres o que ainda é um discurso bem atual.
O Guarani, de 1997, financiado com recursos captados de renúncia fiscal, lhe gerou muitos problemas judiciais e financeiros o TCU acusou Norma por irregularidades na prestação de contas. "De fato, Norma não era uma mulher fácil. Tinha gênio forte e comprou muitas brigas. É preciso considerar, entre seus grandes papéis e polêmicas, que o meio artístico é notório em perseguir quem se destaca", afirma o crítico de cinema Marden Machado.
Nos últimos tempos, a atriz interpretou papéis que lembravam caricaturas de si, mulheres amargas e quase deformadas. De todo modo, fica de sua trajetória um relicário de filmes importantes e a constatação de que somos um país especializado no degredo e desrespeito da própria memória artística: no enterro de Norma, haviam 15 pessoas.
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