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Walton Wysocki, de 73 anos, apresenta uma reviravolta artística desenvolvida ao longo de oito anos para comemorar meio século de carreira; exposição será na galeria que leva seu nome, na Alameda Princesa Izabel | Divulgação
Walton Wysocki, de 73 anos, apresenta uma reviravolta artística desenvolvida ao longo de oito anos para comemorar meio século de carreira; exposição será na galeria que leva seu nome, na Alameda Princesa Izabel| Foto: Divulgação

Arte, cinema e futebol

As artimanhas do artista Walton Wysocki.

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Walton Wysocki postou um vídeo com sua nova produção no YouTube, ambientada por bela trilha sonora.

Curitiba Arte

De presidente do Círculo de Artes Plásticas do Paraná, de 1961 a 1963, a vice-presidente do Clube Atlético Paranaense, em 1974, Walton já fez de tudo. Entre as funções mais destacadas, uma delas foi coordenar por 10 anos o projeto Curitiba Arte, famosa iniciativa do jornalista Alcy Ramalho Filho.

Cinéfilo

Walton alterna as incansáveis horas de trabalho com sessões de cinema em casa. Entre os filmes de sua vida, estão Morte em Veneza, de Luchino Visconti; Um Lugar ao Sol, de George Stevens; O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais; A Montanha dos Sete Abutres, de Billy Wilder, e "todos do Alfred Hitchcock".

  • Materiais descartados são matéria para obras de inspiração indígena

Em uma de suas caminhadas diárias pelo Bigorrilho, onde mora, o artista curitibano Walton Wysocki passou em frente a uma casinha de madeira e quase foi alvejado por uma cama voadora despachada janela afora. "Não quero mais isso!", gritava uma senhora revoltada. "Eu quero", disse o artista, que rapidamente voltou com o carro para buscar a mobília.

Os pés de madeira torneada do leito repousam em um canto do ateliê de Wysocki enquanto aguardam um novo destino. "Ainda estou decidindo o que fazer", conta o artista, mostrando à repórter da Gazeta do Povo o restante do material que vem colecionando como matéria-prima de uma produção realizada em regime de total reclusão, durante oito anos, e que finalmente será mostrada em uma exposição comemorativa de 50 anos de carreira, realizada no próximo dia 7, na Walton Obras de Arte – espaço que ele mantém há 25 anos como casa, galeria e ateliê.

As (aparentes) inutilidades chegam a Wysocki das formas mais inusitadas. Um amigo dono de uma malharia doou-lhe carretéis de papelão. Outro aceitou lhe dar a cortina quebrada. Há ainda quem deixe em sua caixa de correio tampinhas de embalagem de leite e suco. Nas lojas de artesanato, angaria sobras de madeira. Ele próprio, quando sabe que a prefeitura vai podar árvores, corre atrás do caminhão cortando as forquilhas dos galhos podados que lembram os estilingues da infância. E, assim, Wysocki vai reunindo vassouras de piaçaba, palitos de picolé, espetos, pazinhas de sorvete, formas de papelão de padarias, cabides e caixas de leite longa vida.

Com raspas e restos, o artista septuagenário produziu 110 obras que vão impactar quem o conhece por sua respeitada pintura figurativa. "O que eu fazia já não me satisfazia, buscava uma linguagem nova, e aí comecei a imaginar obras inspiradas em elementos da cultura indígena brasileira, da qual sou um admirador, feitas com descartes de uma sociedade opressora, voltada para o consumo, o sucesso, o dinheiro", diz.

Quem entrar pela casa ampla e envidraçada, no dia 7 de dezembro, perceberá imediatamente a inspiração indígena de toda a exposição – denominada Made in Brazil – nas telas tridimensionais que figuram nas paredes. Uma delas, "Yankees Go Home", funde elementos indígenas à imagem de uma bola de beisebol, em franca crítica aos norte-americanos. Em outra, Wysocki utilizou materiais cedidos por uma "tribo de Bra­­sília": usa pedaços de cabides co­­mo elementos centrais de "Em­­prego de Cabide ou Cabide Em­­prego?".

A crítica bem-humorada se encerra nestas peças. No jardim da sala central da galeria de pé direito alto, figuram grandes esculturas, algumas de três metros de altura, inspiradas nas mandioqueiras, artefatos de palha usados pelos índios para secar a mandioca selvagem ralada. As obras, sejam telas ou esculturas, são formadas por um jogo de formas geométricas vazadas e entrelaçadas que as aproximam, até mesmo, da arquitetura. "Estou sempre atrás da forma, do material, antes de me preocupar com o significado", diz.

Trajetória

O livro que será lançado por ocasião da abertura da mostra, de 118 páginas, cataloga a produção contemporânea e resgata as fases anteriores do artista. Em primeira pessoa, o autor conta passagens saborosas da sua vida e relembra episódios como a visita a Curitiba de Paulo Sérgio Rouanet, criador da Lei Rouanet, em 1991, que ficou hospedado em sua casa.

Mas dois episódios pitorescos foram definitivos para que Wy­­socki se tornasse um artista. Ao ajudar o pai no armazém de secos e molhados da família, nas Mercês, o guri Walton gostava de desenhar no papel de embrulho das compras. "O que passasse pela rua, eu desenhava. Aí comecei a reparar que os clientes esperavam que, junto com as compras, fosse um desenho", conta.

Mais tarde, em fins da década de 50, o rapaz de 18 anos, à procura de diversão, deparou-se com uma mulher nua através de uma das janelas de um prédio da Alameda Dr. Muricy. "Seria um inferninho novo na cidade?", perguntou-se, malandro. Era a Biblioteca Pública do Paraná e ali se realizava um encontro do Círculo de Artes Plásticas do Paraná. Atraído pela visão, entrou e, convidado a desenhar a bela modelo nua, travaria contato com mestres como De Bona, Miguel Bakun, Freyesleben, Luiz Carlos de Andrade Lima, entre outros. "Ali, encontrei meu mundo", conta.

Serviço: Made in Brazil (confira o serviço completo). Abertura de exposição e lançamento de livro do artista Walton Wysocki, para convidados, no dia 7 de dezembro, às 20h30, na Walton Obras de Arte – Galeria e Atelier (Al. Princesa Izabel, 1.941), (41) 3336-8602.

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