Leonardo Medeiros integrou o elenco da novela Tempos Modernos, da Rede Globo| Foto: Rede Globo/Divulgação

Carreira

Saiba mais sobre a carreira de Leonardo Medeiros

Cinema

O ator de 44 anos chamou a atenção nacional no filme Lavoura Arcaica, dirigido por Luiz Fernando Carvalho em 2001. Foi um dos personagens mais difíceis que fez no cinema, ao lado dos filmes Budapeste (Walter Carvalho); Cabra Cega (Luiz Fernando Carvalho); e Não Por Acaso (Philippe Barcinski). Fez também: Quanto Vale ou É por Quilo (Sérgio Bianchi); O Cheiro do Ralo (Heitor Dhalia); Corpo (Rossana Foglia e Rubens Ewald); Feliz Natal (Selton Mello); e Insolação (Daniela Thomas e Felipe Hirsch), entre outros.

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Entre 2007 e 2009, o cinema na­­cional viveu um caso de amor com Leonardo Medeiros. No curto período, o ator fez dez longas-metragens. De Não por Acaso (Phillipe Barcinski), passando por Feliz Natal (Selton Mello), ao mais recente Insolação (Felipe Hirsch). Até que o sujeito médio, algo melancólico – o tipo que mais representava na tela grande – começasse a soar repetitivo.

Ao sentir que os diretores já escalavam o personagem em vez do ator, Medeiros interrompeu pro­­visoriamente a carreira nas telas. Mas a experiência adquirida nos sets (e numa formação invejável para atores brasileiros) tem sido posta em prática, entre outras atividades, na oficina "A Imaginação e a Memória à Serviço do Ator". Desde ontem, e até o dia 8, ele está em Curitiba, no Espaço Cênico, ensinando a jovens atores como obter uma relação de intimidade com o observador, através da câmera.

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A memória, um dos temas condutores das aulas, serve como via para atingir os estados emocionais exigidos em cena. "Pessoalmente, trabalho muito com a saudade e a distância", diz Medeiros. Já a imaginação lhe permite enxergar o per­­sonagem de um ponto de vista externo. Ao atuar em Budapeste, por exemplo, imaginou Marcello Mastroianni no papel de José Costa, para, só assim, descobrir como interpretá-lo.

A formação de atores no Brasil ainda é deficiente, observa o artista. "Não há tradição. Está mais ligada à performance circense, à cara de pau e a uma concepção equivocada de naturalismo. A coisa é muito solta", critica.

Acachapante

Após um tempo dedicado ao teatro amador e uma decepção com o curso de formação de atores da Universidade de São Paulo (USP), ele partiu para a Inglaterra, onde frequentou a British Theatre Association, estudando teatro elizabetano, moderno e contemporâneo. "Foi acachapante: a qualidade dos professores e a abordagem, objetiva e técnica", diz.

Mais fundamental ainda para sua formação, contudo, foram os três meses intensos de aprendizado com Luther James, professor do Actor’s Studio, de Los Angeles, aqui mesmo no Brasil, em São Paulo, há duas décadas.

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Nessa época, anos 80, Medeiros dirigia montagens do Grupo Nove, da USP, ou em inglês. Somente na década seguinte passaria a atuar, impelido por um "grilo"com a postura rebelde de atores que, de tão "cheios de si", se tornavam indisponíveis a compreender o que o diretor pedia. Decidiu se tornar o ator com quem gostaria de trabalhar: "Sensível e que perceba a qualidade estética da obra em que está inserido", descreve.

Sem essa visão ampla, acredita, a tendência é se tornar um "ator amestrado". O tipo de intérprete que acostuma mal os diretores, desencorajando-os a um contato mais criativo com o elenco. Essa é, aliás, outra crítica que Medeiros já repetiu mais de uma vez, e se estende à ascensão dos preparadores de elenco no cinema brasileiro. Responsáveis por afastar o diretor dos atores, eles ajudariam a circunscrever o intérprete ainda mais no universo do personagem, sem a compreensão do significado maior do trabalho.

Sutil

Como ator de teatro, Medeiros passou pela Cia. Razões Inversas, fez Hamlet com o Teatro Oficina, trabalhou com Antônio Abujamra e José Possi Neto, até se deter na parceria com a Sutil Companhia, iniciada em 2003, por Temporada de Gripe e, em seguida, Avenida Dropsie.

Com a companhia curitibana sediada em São Paulo, o ator diz fa­­zer o teatro do qual gosta."Sou um artista muito mental e o Felipe Hirsch é um diretor premeditado, consciente e inteligente. Em Não Sobre o Amor, me sinto inseguro 100% do tempo. Um teatro careta me deixa seguro, mas não acho isso bom, o artista tem que estar vibrando."

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Em dezembro, eles começam a ensaiar um novo espetáculo. An­­tes, Medeiros dirige Alessandra Negrini na peça A Senhora de Dubuque, de Edward Albee, prevista para estrear ainda neste mês. O texto apresenta uma relação de afeto entre três ca­­sais jovens, desequilibrada pela pro­­ximidade da morte de um deles.

Enquanto aguarda um roteiro que lhe cause entusiasmo para voltar ao cinema – o que não tem acontecido –, o ator se diverte fazendo novela. Ganhou destaque em A Favorita e encerrou há poucos meses Tempos Modernos, como um pai de família moderninho no visual, mas retrógrado com os filhos. "A televisão é lugar para curtir, exige muito da sua inteligência espontânea. Se você não brinca, não faz", diz.