História
Casarão que virou complexo cultural estava sem uso desde 2003
Um prédio histórico de 1866, projetado por Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, que abrigava a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, estava abandonado quando a milionária suíça Ruth Schmidheiny adquiriu o imóvel, em 2006, por R$ 16 milhões.
Idealizadora da Coleção Daros Latinoamerica (formada em 2000, e que conta com mais de 1,2 mil obras de artistas latinos), que tem como curador e diretor artístico Hans-Michael Herzog, a casa com mais de 11 mil metros quadrados, e com um jardim frontal de palmeiras imperiais foi transformado em um complexo cultural que abriga, além de exposições, atividades paralelas de arte, educação e comunicação.
A localização, que foge do circuito cultural do centro histórico da capital carioca, onde está localizada a maioria dos museus mais importantes da cidade, não tem sido um problema para a Casa Daros, que recebeu mais de 100 mil visitantes desde a inauguração, em março do ano passado.
No prédio, é possível visitar também a biblioteca, especializada em arte, que tem mais de 5 mil títulos, e o restaurante-café do museu, o Mira! (que pode ser frequentado independente do museu). Comandado pela chef Roberta Ciasca, Danni Camilo e Steph Quinquis, o cardápio do restaurante é sempre inspirado na exposição principal.
As exposições também não ficam restritas aos salões principais, e é possível ver intervenções tanto nas paredes do restaurante quanto no pátio externo. No momento, é possível ver os divertidos e irônicos quadrinhos do mexicano Pablo Helguera, parte da mostra Artoons.
As obras no prédio da Casa Daros, que é tombado pela cidade do Rio de Janeiro desde 1987, foram complexas: além dos cuidados extras por causa do tombamento, a casa também precisou de reforços na estrutura, para que pudesse comportar obras de arte da forma mais segura possível. O restauro custou cerca de R$ 67 milhões.
O artista plástico argentino Fabian Marcaccio tem um desejo pretensioso com a sua mostra Paintant Stories, que inaugurou ontem na Casa Daros, complexo cultural situado em um casarão histórico do bairro Botafogo, no Rio de Janeiro: que os jogadores Neymar e Messi, este último seu conterrâneo de Rosário, visitem a obra. Faz sentido, já que o trabalho traz elementos tão diversos quanto os que encontramos em um estádio. E também por Marcaccio considerar o Barcelona, time dos jogadores, uma "obra de arte do futebol".
"Não sou fanático e também não me interessa a nacionalidade do time. Gosto da qualidade do futebol", contou Marcaccio aos jornalistas, enquanto realizava uma visita guiada pela mostra, desvendando parte dos elementos do painel de mais de 100 metros de extensão. O trabalho ocupa, além de duas salas, a parte externa do prédio, e "sai" por uma das janelas. É a segunda exposição individual de Marcaccio no país a primeira foi em 1996, na galeria Camargo Vilaça, em São Paulo.
Criada em 2000, Paintant Stories, que pertence à coleção Daros Latinoamerica, que fica em Zurique, na Suíça, foi exposta pela primeira vez em Stuttgart, na Alemanha, e depois em Colônia e também em Zurique, em 2005. Em todas as ocasiões, o artista "monta" a obra de formas diferentes, sempre de acordo com o espaço expositivo. "É uma exposição que dialoga de uma maneira muito forte com a casa, mais do que as outras", destaca a diretora geral do espaço, Isabella Rosado Nunes.
O artista, que chegou ao Rio duas semanas antes para fazer a parte de fora, de 14 metros, mistura em todo o painel pintura digital e outra intervenção com materiais diversos, como resinas, silicones e tintas. "É um trabalho que não funciona como a pintura de um mural, e não é formalista. Na época em que criei, se falava muito de apropriação", explica Marcaccio.
Ainda não se sabe como a parte externa da pintura será protegida das variações climáticas, mas o curador Hans-Michael Herzog disse que, se necessário, o pedaço externo poderá ser reimpresso, caso haja desgaste.
"Bagunça"
Múltiplas interpretações são possíveis em Paintant Stories, mas a primeira impressão é a do caos: o estilo e as temáticas mudam ao longo do desenho. Há, ainda, uma avalanche de imagens, o que reflete bastante o momento atual, mesmo sendo uma obra produzida há 14 anos. Mas Marcaccio não se acha um visionário. "Quando ela foi instalada novamente, até me assustou, achei até um tanto utópica, pois muita coisa mudou."
A estética do inacabado, de uma obra em progresso, com signos que causam ora empatia, ora repulsão, faz com que o espectador possa ver o trabalho da forma que quiser.
De qualquer forma, quem for visitar a mostra deve seguir um bom conselho de Herzog: dedicar muito tempo para olhar a pintura. "Em uma distância de 20 centímetros, você vê uma coisa. De outra distância, a composição é diferente. É um jogo de micro e macro. Precisa caminhar, experimentar todas as possibilidades da obra", sugere.
*A repórter viajou a convite da Casa Daros.
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