Quarta-feira a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) fez o segundo concerto da temporada, sob regência de seu maestro titular, Osvaldo Ferreira. Já se pode perceber uma mudança significativa no papel que o governo do estado quer dar à formação. Além do novo regente, a OSP tem programação definida para todo o ano, como há muito não se via. E muito respeitável, incluindo solistas de destaque internacional, grandes obras sinfônicas, compositores modernos e, principalmente, autores brasileiros.
A primeira obra tocada no concerto de quarta foi Aqui Caíram as Asas dos Anjos, de Maurício Dottori, compositor radicado em Curitiba. Composta em 2001, a peça poderia suscitar algum estranhamento ao ouvinte menos preparado. Mas não foi obra difícil de ouvir. Explora o timbre orquestral e a gama de sonoridades dos instrumentos, com direito a efeitos exóticos, como o uso de enxadas suspensas na percussão.
Para o público, é uma oportunidade especial ver o compositor levantar-se da platéia após a execução. Se o maestro tem como marca a estreia de obras de compositores portugueses, não se espera menos dele aqui. Mantida com recursos públicos, nossa orquestra tem papel primordial no fomento à cena local de música erudita. Nesse sentido, também foi acertada a escolha do maestro assistente: Márcio Steuernagel já tem atuação de destaque com a Filarmônica da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A segunda peça da noite foi o Concerto para Piano Op. 54 , de Schumann uma escolha infeliz. Ao contrário do Concerto para Violino de Tchaikovsky, tocado no primeiro programa da temporada, a peça de Schumann apresenta desequilíbrio entre o papel do solista e da orquestra, virtuosismo e profundidade, seriedade e entretenimento. Foi um desperdício das qualidades da solista, que brilhou mais pelo bis.
Cristina Ortiz é uma das pianistas brasileiras de maior destaque internacional, e demonstrou equilíbrio e flexibilidade rítmica, além da capacidade de uma grande sonoridade necessária para superar o peso da orquestração de Schumann.
A última peça do programa foi a Quinta Sinfonia, de Tchaikovsky, capaz de nos dar orgulho da OSP. Chegou a ser descartada pelo compositor como fracasso após reger a estréia em 1888. Depois de salva por Arthur Nikish, se afirmou como parte importante do repertório sinfônico. Osvaldo Ferreira regeu de cor, demonstrando conhecimento da obra e capacidade de extrair o melhor da orquestra.
Curitiba tem um grande regente, de trânsito internacional e uma ótima orquestra. Mas falta educação ao público. Pessoas entravam na plateia durante a execução da primeira obra, gente falava ao celular, várias crianças pequenas choraram ou gritaram no meio do concerto. À hora do início da apresentação, ainda havia fila na bilheteria. Ela deveria ser fechada antes e proibidas a entrada após o início do espetáculo e a presença de crianças pequenas. Se não fizermos isso, não seremos capazes de superar nosso provincianismo. O trabalho da nossa orquestra merece esse respeito.
André Egg é professor da Faculdade de Artes do Paraná, e Doutor em História Social pela USP