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Em seu último artigo, Saramago afirmou: “A democracia estava doente” | Mauricio Lima/AFP
Em seu último artigo, Saramago afirmou: “A democracia estava doente”| Foto: Mauricio Lima/AFP
  • O livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles

Madri - O escritor português e Prêmio Nobel José Saramago, de 87 anos, morreu ontem, de falência múltipla dos órgãos decorrente de uma leucemia, na ilha espanhola de Lanzarote, onde residia. "O escritor morreu acompanhado de sua família, despedindo-se de uma forma serena e plácida", informou o site oficial do escritor.

Saramago vivia desde 1993 na ilha de Lanzarote, no arquipélago espanhol das Canárias, com sua esposa e tradutora, a espanhola Pilar del Río. O Nobel de Literatura 1998 contraiu uma grave pneumonia no fim de 2007. Após se tratar da doença, escreveu dois romances, A Viagem do Elefante e Caim. Segundo o jornal espanhol El Mundo, padecia de "uma leucemia crônica".

Nos últimos anos, Saramago foi hospitalizado em várias ocasiões, principalmente devido a problemas respiratórios. Apesar de sua delicada saúde nos últimos anos, o escritor, sempre descrito como um homem sério, afável, de fino senso de humor e eterno apaixonado pela esposa, não deixou a escrita nem abandonou as palestras. Sem papas na língua, sempre se dedicou a apoiar causas em favor dos mais fracos e dos direitos humanos, atividades que marcaram sua vida desde sua afiliação ao partido comunista quando jovem (leia cronologia nesta página).

O autor de O Evangelho segundo Jesus Cristo lançou em abril de 2008 o blog O Caderno de Saramago, que durou um ano até que, ao concluir Caim, anunciiou seu fim para poder se dedicar em tempo integral a seu novo romance. "Comecei outro livro e quero dedicar a ele todo meu tempo. Já se verá por que, se tudo for bem", explicou em seu último post. Esse livro, segundo comentou, versaria sobre a indústria armamentista. "Não será sobre o Alcorão, mas será sobre algo tão importante quanto todos os alcorões do mundo: por que não há greves na indústria do armamento. Uma greve na qual os operários digam: ‘Não construímos mais armas’", afirmou, em entrevista em novembro.

"Todo mundo tem armas, vivemos numa sociedade de violência, que é aceita e a televisão está nos dizendo todos os dias que a vida humana não tem nenhuma importância.". Enquanto preparava essa obra, recebeu, em setembro, na sua casa, em Lanzarote, a visita do escritor peruano Mario Vargas Llosa e de sua esposa, Patricia, e, em dezembro, ainda visitou a ativista marroquino Aminatu Haidar, que durante um mês fez greve de fome no aeroporto da ilha para protestar contra sua expulsão do Saara Ocidental por parte do Marrocos.

Saramago também deu seu apoio ao juiz espanhol Baltasar Garzón, suspenso temporariamente das funções até ser julgado por ter iniciado uma investigação sobre os desaparecidos da Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Em junho último, o escritor publicou seu último ensaio, "Democracia e Universidade", no qual afirma que "não se trata apenas de instruir e sim educar e repercutir na sociedade. Aprendizagem da cidadania, isso é o que acredito sinceramente que falta. Porque a democracia está doente, gravemente doente".

Polêmico

Prêmio Luís de Camões de 1995, suas declarações causavam polêmica, como o apoio que deu à união entre a Espanha e Portugal para formar a Ibéria, enquanto que, sobre a América Latina, denunciou as violações dos direitos humanos em países como Cuba e Colômbia. "Saramago foi o mais firme herdeiro de uma longa tradição: o iberismo português. Poucos como ele amaram e conheceram tão profundamente nossas duas culturas", declarou a diretora do Instituto Cervantes, Carmen Caffarel.

"Foi um escritor arriscado e sem concessões, que soube olhar com seu agudo sentido crítico muitas de nossas chagas: a morte, as guerras, os abusos de poder", acrescentou. O governo da Grande Canária destacou, em um comunicado, a "enorme qualidade literária do vencedor do Prêmio Nobel e o firme e sólido compromisso ético e moral que manteve durante toda sua carreira".

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