É possível que Barack Obama pense em um nome além do de John McCain quando encosta a cabeça no travesseiro: Bradley. Prefeito de Los Angeles por 20 anos e segundo negro a dirigir uma grande cidade norte-americana, Thomas Bradley foi derrotado duas vezes em eleições para governador da Califórnia. Em 1982, a contradição entre seu bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto e o mau resultado nas urnas, que favoreceram o branco George Deukmejian, levou ao surgimento do termo "efeito Bradley" para designar o racismo mascarado do eleitor, que mente aos entrevistadores ao dizer que seu voto não leva em conta a cor da pele.
Apesar do frisson em torno do simbolismo representado por um negro candidato à Presidência num país que, há poucas décadas, segregava afro-americanos em ônibus e escolas, a questão racial pode ser um grande problema para o jovem senador democrata sobretudo numa campanha em que está praticamente empatado com o concorrente republicano.
E se, na aparência e nas suas origens étnicas, é mulato, sua imagem política é a de um candidato pós-moderno: suas identidades são tantas que nenhuma parece se sobressair. Ele é negro, mas não odeia os brancos; é filho de queniano, mas foi educado pela mãe, americana do Kansas; morou na Indonésia, um país em desenvolvimento, mas tem escolaridade muito acima da média.
"Ele vai ter que responder a essa confusão de identidades, que é usada contra ele pelos republicanos", diz o professor de História da América da USP, Sean Purdy.
Essa indefinição pode estar por trás do fato de Obama não ter decolado nas pesquisas de intenção de voto. A estagnação tem exigido mudanças de rumo na campanha. Nesta semana, em que o instituto de pesquisas Zogby mostrou Obama pela primeira vez atrás do republicano John McCain, os democratas lançaram uma força-tarefa de US$ 20 milhões para conquistar o voto latino em estados disputados, como Flórida (excluindo Miami, tradicionalmente republicana), Novo México, Colorado e Nevada.
"Existe uma identificação por parte de imigrantes com Obama, mas não acho que ele tenha aproveitado isso muito bem", diz Clara Irazábal, venezuelana, professora da Universidade de Columbia, em Nova Iorque.
Além dessa dificuldade junto a segmentos específicos da população, a artilharia conservadora é pesada e conseguiu colocar livros difamatórios entre os mais vendidos do jornal The New York Times, como o primeiro da lista nesta semana, The Obama Nation (de Jerome R. Corsi) e o quinto colocado, The Case against Barack Obama (de David Freddoso). Ambos o retratam como esquerdista radical.
Apesar da acusação ou, talvez, pôr causa dela , o democrata se desloca cada vez mais para o centro. "Embora ele tenha um discurso mais liberal, com mudanças mais radicais para se contrapor ao discurso republicano, a tendência dos dois partidos é dirigir-se ao centro", diz o professor da Universidade Católica de Brasília e da UNB, Juliano Cortinhas.
Mas o temor não é exatamente racional. "O medo é importante e pode levá-lo a perder as eleições, por não ser um wasp (branco, anglo-sazão e protestante)", diz Cortinhas.
Para combater os rumores sobre quem ele realmente é, sua campanha abastece um site chamado Fight the Smears (Lute contra os Ataques), no qual já rebateu as "acusações" de que seria muçulmano, não-patriota e até de que se recusa a mostrar a certidão de nascimento.
O desconhecimento do norte-americano médio sobre Obama, sua história e suas idéias é considerado um trunfo pelos republicanos. "Creio realmente que há várias pessoas que, eu não diria, temem Obama, mas apenas não o conhecem, e terminarão votando em McCain", resume Heidi Smith, principal nome do Partido Republicano no condado de Washoe, Nevada. Resta saber se a esperança vai vencer o medo.
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