
Não há nada de tão espetacular no disco duplo e no DVD que integram o box Tour of the Universe, novo lançamento da dinossáurica banda inglesa Depeche Mode. Não há porque é difícil um grupo que se mantém em atividade por 30 anos sem perder grandes pontos em qualidade, diga-se criar um fato novo, um turning point, nem que seja um acorde inesperado em alguma das 21 faixas que estão nos discos ou nas 26 do DVD. O material foi gravado ao vivo nas noites de 20 e 21 de novembro de 2009 e agora chega ao mercado brasileiro para agradar ao fã ligado em uma naftalina.
O fator "espetáculo", no sentido da palavra, está justamente no que envolve o projeto. Tour of the Universe, com seus 102 shows em 40 países o Brasil ficou de fora foi uma das turnês mais rentáveis da história da música em 2009. Para se ter uma ideia de quão grande é o peixe: naquele ano, a lista foi liderada por U2 e Madonna. O Depeche Mode ficou em 20º lugar, com uma receita bruta de U$ 45 milhões e um público presencial estimado em 690 mil pessoas. O show que chega por aqui foi o que aconteceu no Palau St. Jordi, em Barcelona, com ingressos esgotados. A "Turnê do Universo" começou no dia 6 de maio de 2009, em Luxemburgo. A última apresentação foi em 27 de fevereiro do ano passado, na Alemanha.
O périplo também foi marcado pelo "incidente" que envolveu o vocalista Dave Gahan, que teria se machucado ao cair do palco momentos antes de uma apresentação; e pela volta de Alan Wilder, que se reuniu a Gahan, Martin Gore e Andrew Fletcher depois de 14 anos ele participa da música "Somebody", em um concerto especial para a fundação Teenage Cancer Trust.
Em termos musicais, Dave Gahan mais andrógino do que nunca e seus companheiros de estrada criam um clima que poderia ser traduzido como estável. Não há catarse "I Just Cant Get Enough", hit lançado em 1981, não foi incluída no setlist tampouco pontos baixos na apresentação de uma das bandas seminais do chamado synth-pop e que deu de mamar a muitos grandes da música eletrônica de hoje.
Mas destaques existem. São "I Feel You", catapultada pelos vocais inspirados de Martin Gore; "Home", que fecha a primeira parte do show e revela uma sintonia incrível com o público; e "Personal Jesus", uma das melhores músicas da banda, que chega a insinuar um novo momento para o show, mas que não passa de um suspiro.
Talvez o maior feito de Tour of the Universe esteja além de um registro composto por dois discos e um DVD. Em tempos agonizantes para a indústria fotográfica, ver um show lotado e fãs se esgoelando ao cantar tanto músicas de 2008 quanto de 1985 prova que a pirataria não exclui a devoção nem o apreço pelo artista. A vontade de ver seus ídolos de perto em shows lotados em Luxemburgo ou na Pedreira Paulo Leminski é sempre maior que tudo isso. GGG
Serviço:
Tour of the Universe. Depeche Mode. Rock/eletrônica. EMI. CD duplo e DVD. Preço médio: R$ 80.
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