O chileno Roberto Bolaño, autor de 2666 e Os Detetives Selvagens: olhar frequente sobre párias da sociedade| Foto: Jerry Bauer/Divulgação
Miguel de Cervantes, a maior referência da literatura espanhola

As obras de dois autores de língua espanhola serão os próximos objetos de estudo da nova edição do projeto EntreMundos – Mundo da Leitura, Leitura do Mundo, que acontece hoje, a partir das 20 horas, no Teatro da Caixa. O espanhol Miguel de Cervantes Saavedra (1547–1616), mais conhecido pela criação do personagem Dom Quixote, e o chileno Roberto Bolaño (1953–2003), autor de 2666 e Os Detetives Selvagens, estão separados por mais de três séculos, mas se encontram no projeto que tem direção de Marcelo Munhoz. Ele e a atriz Débora Vecchi lerão o prólogo e o conto "O Casamento Enganoso" da coletânea Novelas Exemplares, de Cervantes, e o conto "O Olho Silva" e outros trechos de Putas Assassinas, do autor chileno, que declarou, em uma de suas últimas entrevistas, que Cervantes é uma referência para todo escritor de língua espanhola, inclusive para si.

CARREGANDO :)

O projeto já teve outras cinco edições neste ano, e é marcado principalmente por uma leitura de autores renomados acompanhada por um fundo musical arranjado especialmente para o espetáculo e seguido por um debate mediado por especialistas sobre a obra dos autores. Para falar sobre Cervantes e Bolaño, foi convidada a professora do curso de Letras–Espanhol Isabel Jasinski. Para ela, as obras selecionadas, embora menos conhecidas do grande público, têm grande importância para entender os autores e se aproximam em vários aspectos: "Tanto o conto de Bolaño quanto o de Cervantes se aproximam de um submundo, uma sociedade à margem para a qual os olhos dos escritores se voltam por razões distintas. Cervantes era um humanista cristão, suas histórias são marcadas por uma moral muito presente; já Bolaño tinha uma posição política de esquerda, então dedica um olhar mais radical a esses párias."

Para Marcelo Munhoz, mais do que uma tentativa de conciliação entre as obras, apontar características distintas nas duas pode ser mais enriquecedor para o ouvinte: "Acentuei um pouco cada lado: o Bolaño, duro, sem substrato poético, e o Cervantes brincando com todos os códigos de opereta, do vaudeville, esse lado mais teatral". Ele explica também que os personagens de Cervantes serão divididos entre ele e Débora Vecchi, ao passo que em "O Olho Silva" a leitura será feita no estilo de um jogral.

Publicidade

Acompanhando a leitura, os alaúdes de Silvana Scarinci e Roger Burmester pontuam de maneira característica e diferente as obras dos autores. "Para o texto de Bolaño, contrapomos o sentimento da música e do texto. Se há uma passagem alegre, fazemos uma acentuação mais triste, ou deixamos para acentuar essa parte em outro momento. No caso do Cervantes, além do alaúde, também tocamos a guitarra barroca, que também é da época do autor. Ela permite um som mais percussivo e é usada mais para festas e bailes, situações retratadas no conto", adianta Burmester.

É dessa forma que as diferenças e as semelhanças entre dois mestres da literatura de língua espanhola surgem. "A rigidez das pavanas e dos minuetos do alaúde fazem jus à rigidez da escrita de Bolaño, e a antiguidade dos instrumentos, aliada à sua sonoridade arcaica, fala ao mundo renascentista de Cervantes. São esses dois universos que pretendemos explorar", afirma Munhoz.

Serviço

EntreMundos – Mundo da Leitura, Leitura do Mundo – 6ª Edição. Teatro da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Hoje, às 20 horas. O ingresso é um livro não-didático.