Técnica
Cenário e iluminação assinados por curitibanos
Entre os muitos artifícios que contribuíram para a intensidade emocional dos fãs estava o trabalho de dois curitibanos. A bela produção de cenário criado por Felipe Hirsch, que contava com um telão de led de oito toneladas colocado no teto do palco, e a iluminação e direção de fotografia de Beto Bruel, que incluía efeitos especiais de acordo com a música como um blackout durante "Tempo Perdido", no trecho "Não tenho medo do escuro..." foram trabalhos de primeira linha.
"Nos preparativos finais, foi um trabalho intenso, a gente chegou lá às 8 horas da manhã na segunda-feira (28) e saímos só às 10 horas de terça (29). E uma das coisas bem diferentes dos shows tradicionais é que a iluminação que o Felipe Hirsch queria era uma luz bem teatral, focada no rosto dos músicos, que dava uma sombra proposital", contou Beto Bruel.
No show, os efeitos faziam parecer que o cenário do palco mudava durante a apresentação. A predominância do vermelho quando Dado e Bonfá assumiram os vocais ou do verde na passagem mais rock-and-roll foram algumas das boas escolhas. "Eu fiz a iluminação do primeiro show do Legião em Curitiba, em 1984, e foi incrível estar naquele tributo e ver a reação emocionadíssima daquela plateia. Na iluminação foi tudo muito pensado, com coisas especiais como projetar o azul do céu de Brasília", relembrou Bruel.
Em qualquer aula de redação, desde que bem dada, o professor dirá que mais importante do que a ortografia correta ou as ideias bem colocadas no texto, é conseguir transmitir a emoção criada ou vivida para as linhas que se redige. Dureza maior é quando o fato a ser relatado é a emoção transbordada por todos os poros, como a que foi vista (e sentida) na segunda noite do MTV Ao Vivo Tributo ao Legião Urbana, show que aconteceu na última quarta-feira (30), no Espaço das Américas, em São Paulo.
A impressão era de que o lugar tinha virado um grande encontro de velhos amigos que precisavam extravasar toda aquela poesia em formato de música, guardada desde que a banda ficou órfã de pai, após a morte de Renato Russo, em 1996.
Tinha fã de tudo quanto é lado e dos mais diferentes perfis. Além dos 7 mil reunidos em cada noite de apresentação que chegaram aos montes, com bandeiras, cartazes e camisetas da banda Wagner Moura assumiu os vocais se portando como o mais declarado apaixonado por Legião.
Humilde e extremamente simpático, o cantor da banda Sua Mãe, de Salvador, mostrou o prazer imenso que era dividir o palco com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, que tocaram acompanhados de Rodrigo Favaro (baixo), Caio Costa (teclado e arranjos) e Gabriel Carvalho (violão). "Esse é o dia mais inacreditável da minha vida. Eu vou contar isso para os meus filhos e para os filhos dos meus filhos. Vou dizer que estive no palco com a maior banda de rock do país", disse Wagner, amenizando os problemas de afinação que ficavam bem evidentes nas músicas mais lentas.
Aquela tendência natural de esfriamento de plateia, que geralmente se acalma depois das primeiras músicas e da agitação inicial, simplesmente não aconteceu. Começava uma nova música, e o ânimo era automaticamente renovado. Emoção à flor da pele em mais de duas horas de apresentação.
O motivo para tamanho frenesi era, claro, a presença dos dois "legionários", mas também, e principalmente, do repertório. Com tantos sucessos espalhados pelos oito discos da banda (são 15 milhões de cópias vendidas), pode parecer fácil apontar algumas canções para fazer a alegria da galera. O que é um engano potencial. Muitas vezes, as músicas tão "lambidas" nas rádios FMs não são as mais apreciadas por quem é fã de verdade. A dosagem perfeita de canções que foram paradas de sucesso com aquelas que "só quem ama a banda de verdade" sabe cantar, foi um trunfo e tanto.
Não teve quem não saiu feliz. Dos fãs comuns, como Arnaldo Gonçalves Rocha, de 36 anos, que desfilava com capa e camiseta do Legião, aos globais como Guilhermina Guinle, Mariana Ximenes e Vladimir Brichta, que mal conseguiam se conter na área vip. Todos com sorrisos de orelha a orelha.
Entre os grandes momentos do show, a hora em que Dado e Bonfá tiveram "um particular" com a plateia foi um momento especial. Sem Wagner nos vocais, depois de Bonfá cantar "Teatro dos Vampiros", Dado apresentou uma versão acústica de "Geração Coca-Cola", com a participação do multi-instrumentista Clayton Martin, que fez uma bela introdução de gaita no novo arranjo. Outro destaque da noite foi a dobradinha de Andy Gill, do Gang of Four (uma das bandas preferidas de Renato Russo), com Bi Ribeiro tocando "Damaged Goods" e "Ainda É Cedo". "É fantástica essa ligação da Gang of Four com a Legião Urbana. Estou muito feliz de estar aqui", disse Andy logo depois de ser chamado por Dado, que afirmou: "O Renato ia estar muito orgulhoso de ter esse cara conosco!"
Estraga-prazer
No clima harmônico do show, um fato destoou. Pouco antes de Andy subir ao palco, um homem, de aparentemente 30 e poucos anos, que estava na plateia, ofendeu, com um palavrão, a mãe de Dado Villa-Lobos. O músico respondeu na hora, fazendo gestos com a mão e falando para o jovem subir ao palco. Irritadíssimo, Bonfá levantou da bateria e, de tão desconcertado, chegou a escorregar e cair no chão enquanto xingava o jovem. A confusão chamou a atenção dos milhares de fãs que fizeram coro para a expulsão do homem, que foi retirado por seguranças.
Com o "não-fã" fora de circulação, foi só um novo acorde soar para o incidente ser totalmente esquecido e a multidão voltar a amar, como se não houvesse amanhã.
Veja algumas fotos do show de Tributo ao Legião Urbana
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