Um filme ensolarado

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São Paulo - Vicky Cristina Barcelona tem o tipo de energia que há muito não se via nos filmes de Woody Allen. Com estréia nos cinemas prevista para o mês que vem, a produção teve ontem a sua primeira sessão na 32ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Uma das mais disputadas até aqui.

Parte do brilho da nova comédia do diretor que fez Manhattan (1981) e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), e o mais recente Match Point (2007), se deve ao casal de atores espanhóis Javier Bardem e Penélope Cruz. Uma química típica de uma história contada pelo cineasta Pedro Almodóvar, mas que funciona à perfeição para o humor de Allen.

Duas amigas norte-americanas, Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), decidem passar uns dias em Barcelona. A primeira realiza um trabalho sobre cultura catalã e espera enriquecer sua pesquisa enquanto está na cidade. A segunda desfez mais um relacionamento amoroso e segue sem saber exatamente o que quer da vida e das paixões – sabe somente o que não quer.

Mal chegaram à cidade, o casal americano que as hospeda as leva para um vernissage. No evento, Cristina cruza olhares com o pintor Juan Antonio (Javier Bardem) e não consegue disfarçar o interesse. Mais tarde, elas estão em um restaurante onde, por coincidência, reencontram o artista.

Sem cerimônia alguma, Juan Antonio levanta de sua mesa e caminha na direção das estrangeiras. Parado em frente a elas, Bardem pronuncia sua primeira fala: "Americanas?", e arranca as primeiras risadas do público.

Acontece que o personagem Juan Antonio é um tremendo clichê do amante latino, mas Bardem consegue fazê-lo de forma que consegue ser cômico e, ao mesmo tempo, sedutor. É um latin lover intelectual cuja franqueza desconcerta qualquer mulher.

Juan Antonio, que acaba de enfrentar uma separação violenta e sofre por ainda amar a ex-mulher Maria Elena (Penélope Cruz), convida Vicky e Cristina para passar um fim de semana em Oviedo. A idéia é se conhecerem melhor e fazerem amor, se possível, os três juntos. (é o que diz no instante em que faz o convite.) Eles podem viajar no avião que emprestou do amigo e, claro, ele é um sujeito tão fascinante que, além de pintar, também sabe pilotar aeronaves.

A partir dos dias na cidadezinha de Oviedo, uma série de encontros e desencontros conduz a rotina dos três, até que entra em cena Maria Elena.

Penélope Cruz rouba o filme de uma forma extraordinária. No papel da ex-mulher também artista, a atriz cria algumas das cenas mais engraçadas de Vicky Cristina Barcelona.

Como quando briga com Juan Antonio na frente de Cristina. Metralhando um espanhol agressivo, ela dá impressão de que vai voar na garganta dele a qualquer momento. Depois de ouvir várias barbaridades, Juan Antonio reclama: "In English, Maria Elena! In english!". Porque Cristina não entende nada de espanhol. Atendendo ao pedido, Maria Elena repete todos os impropérios que disse, desta vez, em inglês.

Vicky Cristina Barcelona é um filme ensolarado com interpretações marcantes de todo o elenco principal. Scarlett Johansson babando nas cantadas de Bardem é hilária. Rebecca Hall no papel da americana certinha que sonha em viver com o marido perfeito na casa perfeita – e vê suas ambições desmoronarem diante de uma paixão irresponsável – é marcante.

Ah, claro. E existe o beijo. O tão falado beijo entre Penélope Cruz e Scarlett Johansson (e Javier Bardem). Ele é rápido e delicado. Mas não deixa de ser interessante.

O jornalista viajou a convite da Mostra.