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Manacá: quarteto carioca, formado há dois anos, mistura ritmos tradicionais brasileiros com rock contemporâneo e música cigana | Divulgação
Manacá: quarteto carioca, formado há dois anos, mistura ritmos tradicionais brasileiros com rock contemporâneo e música cigana| Foto: Divulgação

Opinião

Agradável surpresa

Cristiano Castilho, repórter do Caderno G.

O show era do Beirut e, em princípio, não precisaria de nada mais. Mas quando entrei no Via Funchal, em São Paulo, no último dia 11 de setembro, parei antes de continuar a procura pelo meu lugar. Estava há mais de cem metros do palco e vi uma figura com um vestido branco, a rodar. Ao mesmo tempo uma música forte, apoiada em um baixolão e em altas guitarras surgia, me forçando a prestar ainda mais atenção naquele grupo. Era o Manacá.

Como se encarnasse tropicalistas contemporâneos, fazendo experimentações, o quarteto não tem medo.

Ao vivo, sua música parece extrapolar as barreiras da própria musicalidade e atingir outros sentidos artísticos sem esforço algum. Hora é a imagem de Madredeus que surge, na valsa "O Galo Cantou", hora é Mars Volta e suas estrepolias barulhentas ("Lua Estrela"). Tudo costurado com referências regionais tipicamente brasileiras, que falam tanto sobre um carnaval inexistente, um diabo que morde, a Senhora do Rosário, bandeiras que balançam ou tamborins que latejam. É Ariano Suassuna e é Novos Baianos.

É certo que um álbum como esse pene para conseguir atingir a pretensão que lhe é característica intrínseca – exceto, talvez, pela releitura dispensável de "Canto de Ossanha". Mas, para ouvidos cansados das temáticas e sonoridades que nos caçam por aí, é uma recomendável saída. (CC) GGGG

Serviço

Manacá. EMI. Preço médio: R$26,90. http://www.myspace.com/manacabr

O conceito é palpável. Assim que se abre o encarte do disco, entra-se no mundo de Manacá. São referências barrocas e algum sincretismo religioso – imagens de cavaleiros dividem espaço com anjos alados. A música dessa banda carioca também é quase isso. Em seu primeiro disco, lançado pela EMI, Manacá – também pequeno fruto arroxeado, resgatado da literatura de Ariano Suassuna (Romance d’A Pe­­dra do Reino) – viaja das festas folclóricas do século 19 ao agreste nor­­destino por uma via pop.

Formada por Luiz Cesar Pintoni (guitarra), Bruno Baiano (bateria), Daniel Wally (baixo) e Leticia Per­­siles (voz e percussão), a banda tem só dois anos de estrada, mas algumas histórias. Recai sobre o grupo, por exemplo, a responsabilidade pela difusão da música "Elephant Gun" e da própria banda Beirut no Brasil.

Convidada para protagonizar a minissérie Capitu, da Rede Globo (2008), a também atriz Leticia Per­­siles, que viveu a personagem-título, percebeu a possibilidade da utilização da música dos norte-ame­­ricanos na trilha sonora da série dirigida por Luis Fernando Carvalho. "Nosso guitarrista en­­tregou um CD com a música para o Luis Fer­­nando, sugerindo a faixa, já que a gente usava-a em nossos en­­saios", explica Leticia, que iniciou nos palcos aos 11 anos e cantou pela primeira vez aos 14. Ela estudou percussão sinfônica na Escola Villa-Lobos, no Rio de Ja­­neiro. E se identifica com o teatro de rua. "Nossos shows são meio improvisados", diz.

Avançando nos contatos com a banda de Zach Condon, e-mails iam e vinham. Até que o festival Perc Pan – Panorama Percussivo Mun­­dial – surgiu, tendo Beirut co­­mo grande destaque. Depois de shows em Salvador e no Rio de Janeiro, um encontro no Via Funchau, em São Paulo, foi arranjado para setembro deste ano. Manacá seria a banda de abertura – leia mais na matéria abaixo. "Com um bom trabalho as oportunidades vão aparecendo", sintetiza a cantora, que destaca como influência da banda Luiz Gonzaga, o próprio Beirut, outros grupos musicalmente ligadas ao leste europeu e uma "infinidade de artistas consagrados pela mídia".

Construção

As confluências entre os gêneros musicais presentes em Manacá parecem refletir fielmente o que são e pensam os integrantes da banda. A maioria das faixas foram compostas por Leticia e pelo guitarrista Luis Cesar. "Elas foram construídas ao longo de nossa história", diz Leticia. E rock, música regional brasileira – há referências a festas tradicionais, como congadas e "reisados" – e música cigana encontram suporte explosivo na escola hardcore do baterista Bruno Baiano. Para a carioca, "o diálogo tem de existir em qualquer trabalho".

Para essa conversa musical fluir, o produtor Mario Caldato foi requisitado. Conhecido internacionalmente por seus trabalho com Beastie Boys (produziu dois discos), Super Furry Animals e Mo­­lotov, e nacionalmente pela assinatura em álbuns de Bebel Gil­­berto, Marcelo D2 e Nação Zumbi, Caldato parece ter conseguido dar a cara que a banda realmente tem nos palcos.

"Foi uma honra trabalhar com o Mario. Ele foi superssimples conosco e o entrosamento foi ótimo. Nós eramos estreantes em estúdio, mas ele teve muita paciência para gravar", lembra Letícia.

O produtor aceitou todas as sugestões da banda, inclusive a inclusão de uma rabeca – "ele não conhecia o instrumento" – em uma das faixas. Ao todo são 12 mú­­sicas, incluindo um cover de "Canto de Ossanha" (Vinícius de Moraes e Baden Powell) e uma versão acústica de "O Galo Cantou", também presente no disco em versão integral.

Atualmente, o quarteto ensaia para o show de lançamento do álbum, no próximo dia 29, no Rio de Janeiro. "No momento o disco merece uma atenção especial", diz Leticia, de folga dos palcos enquanto atriz, mas se preparando para uma maratona enquanto vocalista.

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