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Superman é mesmo um herói retrô. Por mais que tentem atualizá-lo, trazê-lo para o caos do século 21, algo em seu uniforme, talvez o mais emblemático entre todos os seus congêneres, faz com que ele pareça ser uma criatura transportada de algum lugar no passado. O mesmo pode ser dito de Clark Kent, disfarce do personagem entre os reles mortais. Do cabelo moldado à base de brilhantina (ou gel) aos óculos de armação grossa, que se sobressai no rosto sempre anguloso de Kent, tudo parece remeter a um tempo distante, quando não havia celulares e internet. E a América era um modelo de prosperidade e democracia a ser seguido.

Talvez por conta desse anacronismo inerente às suas origens, Superman Returns, mais nova encarnação cinematográfica do super-herói, seja um filme estranho, senão esquizofrênico. Graças à direção inventiva de Bryan Singer, que levou para o cinema a bem-sucedida franquia X-Men, o resultado final é bom e até capaz de seduzir novas gerações de fãs. Mas, ao longo dos seus 154 minutos, há algo de muito dissonante entre a contemporaneidade e o esvoaçante Superman. A sensação que se tem é que o personagem foi convidado para a festa errada – ou que chegou muito atrasado para a certa.

Em um misto de homenagem a Christopher Reeve (morto em 2004) e sacada mercadológica, buscando manter os fãs do filmes oitentistas, o filme tenta, já nos créditos de abertura, deixar claro que, apesar de ser uma versão repaginada, o super-herói não mudou tanto assim. A começar pela opção de usar o consagrado tema musical do premiado John Williams.

Dessa vez o super-herói é vivido pelo promissor estreante Brandon Routh, que tem a beleza quase perfeita e, sobretudo, íntegra que Superman exige. O longa mostra o mundo cinco anos após o misterioso sumiço do herói. Sem ele, a violência aumentou na cidade de Metrópolis e seus arredores. Mas o pior ainda está por vir, graças a Lex Luthor (Kevin Spacey, em mais uma atuação canastrona), que saiu da prisão, e quer usar os segredos tecnológicos do super-herói em benefício próprio.

Lois Lane (a meio insossa Kate Bosworth) também mudou desde que Superman a deixou sem dizer uma só palavra. Ela parece ter esquecido seu grande amor e tocou sua vida: está noiva de um sobrinho do editor do Planeta Diário e tem um filho pequeno para cuidar. Decepcionada com o super-herói, ela escreveu um artigo intitulado "Por que o mundo não precisa do Superman" e ganhou o Prêmio Pulitzer por ele.

Após uma longa busca por um lugar no universo, Superman acaba voltando para a Terra e para a fazenda da família Kent. Mas seu destino está em Metrópolis, onde está Lois Lane e onde grandes perigos o aguardam.

O melhor do filme de Singer está na relação "impossível" entre Superman e Lois Lane, que acrescenta uma bem-vinda dose de romantismo e drama à receita consagrada há décadas. Falta, no entanto, sensualidade e ardor ao romance, por mais que tenha sido concedido ao personagem o direito de ser pai. É como se, por encarnar o bem e defender os fracos e oprimidos, o super-herói tenha permissão de evitar a colisão de um avião ou o desabamento de um prédio, mas não o de ter uma ereção, de ser sexualizado. Talvez por conta disso que Superman não seja mais tão relevante assim. Ainda assim, ele voltará em breve. GG1/2

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