Uma química instantânea é produzida quando os deconhecidos Harlan e Tobe trocam olhares em um posto de gasolina. Sem pensar muito, ele larga o emprego de frentista e se manda para a praia com a garota e seus amigos. É o início de uma história de amor e tragédia, em que os culpados se confudem com as vítimas e da qual ninguém sai ileso. Nem o espectador, que termina Vale Proibido, a partir deste mês nas locadoras, com uma sensação incômoda.
À primeira vista, o casal não combina. Tobe (Evan Rachel Wood, de Aos Treze) é o protótipo da adolescente rebelde. Entediada, vive às turras com o pai, Wade (David Morse, de Dançando no Escuro), um policial que a criou sozinho com pouca ou nenhuma delicadeza. Mais velho e menos ansioso do que ela, Harlan (Edward Norton, de longe o melhor ator de sua geração) vaga a esmo pela região de San Fernando Valley, nos arredores de Los Angeles, convencido de que é um autêntico cowboy. Mas nada como uma boa dose de carência para unir os perdidos de plantão, por mais diferentes que sejam.
Harlan, simpático e cavalheiro, adora trabalhar sua imagem de homem à moda antiga. Logo conquista a afeição do irmão da namorada, Lonnie (Rory Culkin, de Sinais, "mano" de Macaulay e Kieran), um garoto solitário que, como Tobe, não tem o mínimo diálogo com o pai. Está armada a confusão.
Quando Wade se dá conta da "invasão" em seu pedaço, Harlan já se comporta como se fosse um membro da família. E o pior: começa a apresentar sinais de que não é tão centrado quanto parece ou quer parecer. É nesse ponto da trama que o talento de Norton floresce e o ator mais uma vez brilha na pele de um personagem dúbio e complexo (sua especialidade desde As Duas Faces de um Crime). Uma atuação tão convincente que chegou a ser comparada, com certo exagero, a de Robert De Niro no clássico Taxi Driver.
Enquanto Harlan revela seu lado obscuro e se desintegra aos poucos, Wade, pela primeira vez em anos, tenta agir como um verdadeiro pai. Só que os filhos, descrentes, preferem ficar do lado do forasteiro, e o que se segue é o anúncio de uma tragédia.
Do outro lado da câmera, David Jacobson se mostra um diretor seguro e hábil com os atores a começar pela seleção do elenco, impecável. Vindo de Dahmer Mente Assassina (sobre o famoso serial killer gay que comia os órgãos de suas vítimas), ele injeta doses certeiras de suspense em Vale Proibido, cujo roteiro também é de sua autoria. E ainda se arrisca numa apropriação do western, filmando um duelo final improvável, repleto de significados. Enfim, um nome a se guardar. GGG
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