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Uruguaio  esquece a melancolia em novo álbum | Divulgação
Uruguaio esquece a melancolia em novo álbum| Foto: Divulgação

CD

Bailar en la Cueva

Jorge Drexler. WEA. Preço médio: R$ 29,90. Música latina.

Intimista e algo melancólico. É mais ou menos assim que muitos sentem a música do cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler, vencedor do Oscar de melhor canção original, pela composição "Al Otro Lado del Rio", tema do filme Diários de Motocicleta, de Walter Salles. Em seu novo álbum, Bailar en la Cueva, que acaba de ser lançado no Brasil, o artista, que completa 50 anos em setembro, ressurge mais leve, dançante, quase pop em alguns momentos. Mas sem perder sua desconcertante veia poética, que toma outros rumos.

Para encontrar em sua música elementos dançantes, Drexler gravou o disco entre Bogotá e Madri, e recrutou um time de colaboradores interessantes: o baiano Caetano Veloso, a banda colombiana Bomba Estéreo, a cantora chilena Ana Tijoux e o porto-riquenho Eduardo Cabra, do duo Calle 13, grande sucesso da música latino-americana.

Todos esses músicos têm em comum, em suas respectivas obras, uma forte pegada rítmica, essencial à missão agora abraçada pelo uruguaio, de dar a suas canções, geralmente de um lirismo contido, um senso de corpo físico, convidando quem a escuta ao movimento. Um desafio, enfim.

Em "Bolívia", faixa na qual Drexler divide pela primeira vez o microfone com Caetano, o músico homenageia o país que acolheu seus avós e seu pai, que tinha apenas 4 anos quando a família, de origem judaica, fugiu da Alemanha nazista.

Radicado há vários anos na Espanha, Drexler, que é médico otorrinolaringologista de formação, foi criado durante a ditadura no Uruguai e costuma defender que a melancolia é um traço indissociável da música produzida na parte mais meridional do continente sul-americano. Ele comunga, inclusive, do ideário do compositor gaúcho Vitor Ramil, para quem as sonoridades da região estão relacionadas ao frio, importante fator na construção da identidade tanto na região do Rio do Prata quanto no sul do Brasil.

No belo e surpreendente Bailar en la Cueva (que, em português, significa dançar na caverna), Drexler desenvolve um raciocínio sofisticado, no qual o impulso de movimentar o corpo ao som de música emerge talvez até de forma mais brutal em um contexto cultural de traços mais contidos e introspectivos.

Ele costuma dizer que, em uma família de intelectuais de esquerda como a sua, dançar era quase uma subversão, um ato ignóbil. Talvez até por conta disso seu novo disco soe tão visceral. É reativo à atmosfera de contenção na qual ele cresceu.

Embora siga poético, as letras das canções de Bailar en la Cueva são menos transcendentes do que o que se ouve em seus trabalhos anteriores, o que não é defeito. Há, percebe-se, uma busca por uma maior materialidade e concisão – é como se o Drexler letrista tivesse colocado o pé no freio, para permitir que o autor das melodias se soltasse, e caísse na dança. GGGG

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