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Anelise Flylyk com seus pocket books. Formato com preço acessível facilita portabilidade | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Anelise Flylyk com seus pocket books. Formato com preço acessível facilita portabilidade| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Interatividade

Você gosta de ler livros de bolso? Qual é a importância do formato para você?

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Uma alternativa econômica e mais portátil do livro convencional, os pocket books, ou livros de bolso, dividem opiniões entre leitores e editores. "Quando a gente procura um livro na livraria, é comum o livreiro dizer: ‘tem, mas só de bolso’", evidencia a diretora editorial da Cosac Naify, Florência Ferrari, citando o que entende ser uma mostra de menosprezo pelo formato. A editora paulista conhecida por seus livros-conceito, a despeito da controvérsia que o formato pode gerar, também embarcou na publicação de livros compactos. A coleção Portátil, que por enquanto tem apenas dez volumes, evidencia uma tendência geral das grandes editoras. Assim como a Cosac Naify, a Companhia das Letras já publica boa parte de seu catálogo pelo selo Companhia de Bolso, além de lançar clássicos em novas traduções pelo selo Penguin-Companhia, numa parceria com a famosa editora britânica. A editora Objetiva relança pelo selo Ponto de Leitura, versão brasileira da editora espanhola, títulos também dos selos Alfaguara, Suma de Letras e Fontanar; o grupo Record tem o selo Best-bolso, e por aí vai.

A razão para o investimento das editoras em formatos econômicos e menores passa por interesses comerciais e logísticos. Florência explica que os livros de bolso apresentam melhor o catálogo da Cosac Naify, além de ter rápida absorção pelo grande mercado. "Publicamos livros em várias áreas, como arquitetura, artes plásticas, literatura e sociologia, mas o leitor de um gênero não conhece o resto, que fica em outra seção nas livrarias. A coleção é uma forma de mostrar um pouco mais a diversidade do catálogo. Além disso, muitos livros são de interesse universitário, e para esse público a saída é imediata. O formato de bolso facilita a reimpressão." A diretora acrescenta ainda que a rápida reimpressão também auxilia na manutenção de fundo de catálogo, ou seja, ajuda a manter em circulação livros do acervo já esgotados, que demandariam uma nova tiragem custosa e sem garantia de retorno em formato normal.

E, ainda que muitos leitores tenham suas reservas com o formato – a principal reclamação é referente à pouca margem deixada na página, o que torna a leitura desconfortável –, existem adeptos do livro de bolso que encontram nele a praticidade de que precisam. É o caso da auxiliar administrativa Anelise Flylyk, de 24 anos, que prefere ler literatura em pocket books. "Gosto principalmente porque dá para levá-los na bolsa, assim posso ler enquanto espero numa fila, ônibus e afins." Leitora de pockets de Franz Kafka, Jack Kerouac, Charles Bukowski e Edgar Allan Poe, Anelise diz não se incomodar com a leitura num formato menor, e adotou os livros de bolso principalmente pela economia. "É uma maneira de eu ter vários dos livros de que gosto sem gastar tanta grana."

Pioneirismo

O mercado dos livros de bolso no Brasil é território gaúcho, com os selos L&PM Pocket e Martin Claret, ambos fundados na década de 1970. Ivan Pinheiro Machado, da L&PM, afirma que a editora é responsável por lançar todo mês cerca de 15 novos livros no mercado, além de 40 reimpressões, com tiragens que variam entre quatro e dez mil cópias (a tiragem média de um livro no Brasil é três mil exemplares). "O nosso plano é democratizar a leitura. Tem estande da L&PM em qualquer livraria do Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Inclusive, temos um estande em uma padaria aí em Curitiba, a Saint-Germain", orgulha-se o cofundador da editora.

O modelo surgiu no Brasil junto com a redemocratização do país. "Quando começamos a fazer a editora, não conseguíamos acompanhar os juros altos da época e competir com as multinacionais que entravam no mercado. Então, adaptamos a nossa realidade para sobreviver, para conseguir lançar livros com qualidade de tradução e preços competitivos", explica. Para o diretor e editor, o pocket book tem como principal público os jovens. "Graças ao preço, o jovem pode deixar de ler o livro dos pais e comprar seus primeiros títulos. É a emancipação literária do leitor."

Preço

Não é verdade, entretanto, que livro de bolso seja sinônimo de livro barato, e o número de páginas continua influenciando o preço final, embora os livros, assim como jornais e revistas, sejam isentos de impostos sobre o papel de impressão, de acordo a Constituição Brasileira. Os valores cobrados pelos títulos portáteis da Cosac Naify variam de R$ 21,90 a R$ 47. "Estamos em um processo de barateamento do preço de capa, e pretendemos lançar livros de 74 páginas que vão custar R$ 15,90. Preferimos trabalhar numa edição que ainda tenha a elegância dos livros da editora sem sacrificar a margem e a capa", justifica Florência Ferrari. Os livros do selo Penguin-Companhia compartilham o mesmo teto de preço da Cosac Naify (Ulysses, de James Joyce, custa R$ 47), e os da Companhia de Bolso frequentemente ultrapassam os R$ 30. A editora não quis se pronunciar sobre o assunto.

"Acho que acima de R$ 20 é caro por um livro de bolso. Acima de R$ 30, só se for um livro com uma capa mais bacana e uma edição caprichada", afirma Anelise, cuja opinião é partilhada por Ivan Pinheiro Machado. "O livro precisa ser barato. Lançamos a coleção 64 páginas, com títulos a R$ 5, para facilitar o acesso. Quero que um leitor que tenha R$ 50 para gastar numa livraria possa fazer a festa."

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