Paralelas
Saiba mais sobre a relação de Rubem Fonseca com a editora Agir
Nova casa
O rompimento de Rubem Fonseca com a Companhia das Letras, casa editorial que o editou durante duas décadas provocou muitos comentários no meio literário. Muito se falou e nada de concreto conseguiu ser levantado.
Os fatos
A Agir inovou. O mais recente romance de Fonseca, O Seminarista, além da edição de papel, também é o primeiro livro a ser lançado no Brasil também em formato digital, para Kinlde, iPhone e iPod. Quem estiver interessado em adquirir o livro nesses formatos pode obter mais informações pelo telefone (21) 3882-8531.
Relançamentos
Além de O Seminarista, que é inédito, a Agir está relançando toda a obra de Fonseca. Incialmente, foram reeditados os livros Os Prisioneiros, de 1963, e Lúcia McCartney, de 1969.
Promoção
Quem comprar os três títulos, O Seminarista, Os Prisioneiros e Lúcia McCartney, ganha (grátis mesmo) o cobiçado A Arte de Andar nas Ruas do Rio de Janeiro, que alia textos de Rubem Fonseca e fotos de Zeca Fonseca, fotógrafo e filho do escritor. Esse brinde não é vendido, tem tiragem limitada e, uma vez esgotado, não será reeditado.
O mais recente romance de Rubem Fonseca foi construído a partir de alguns pressupostos. O primeiro deles é o seguinte: nesta vida, ninguém consegue ser diferente daquilo que realmente é. Essa tese não é direta, mas está insinuada e pode ser decifrada a partir do comportamento do protagonista de O Seminarista, livro que marca a transição do autor que, depois de duas décadas editado pela Companhia das Letras, agora está na Agir.
O protagonista é identificado como o Especialista. Ele é um matador, o mais eficiente em atividade no Rio de Janeiro. Recebe as encomendas do Despachante (esses dois personagens, o Especialista e o Despachante, já apareceram no livro de contos Elas e Outras Mulheres, que Fonseca publicou em 2006, ainda pela Companhia das Letras).
O impasse do Especialista é que ele cansou de fazer o seu serviço. Acumulou dinheiro e, no presente narrativo, anuncia que pretende se aposentar. Conhece uma mulher, Kirsten, e decide viver uma "vida normal".
Mas, de acordo com a tese de Fonseca, ninguém dribla o destino, ninguém foge daquilo que é. Se o Especialista evita as mortes, as mortes procuram a mira de seu revólver.
Toda a trama vai ser construída a partir desse conflito. O personagem matou muita gente, e alguém do passado vai querer se vingar dele.
Mas há outros aspectos do livro que chamam a atenção durante a leitura. O Especialista foi um seminarista. Desse passado, restou pelo menos uma herança: o latim. Então, ele cita frases nessa língua simbólica em diversas situações de seu cotidiano. Na cama, com a sua amante. Diante de uma refeição em um restaurante, ou quando tem de matar alguém, geralmente com um tiro na cabeça, que é a sua assinatura.
O ex-seminarista era, até conhecer a personagem Kirsten, um descrente em relação ao amor. Consumia mulheres, tidas, para ele, até então, como quase objetos. Mas, a partir desse grande amor, ele não quer mais saber de outras mulheres, mesmo diante de situações tentadoras.
O Especialista, ex-seminarista, modifica-se, no que diz respeito ao relacionamento com o sexo oposto.
Mas não conseguirá deixar de ser o assassino que é, por mais que se esforce.
Fonseca realiza uma experiência ficcional que, em primeiro lugar, evidencia um texto muito sedutor. Basta ler qualquer trecho para comprovar a qualidade desse autor que parece incapaz de escrever um texto ruim: "Nunca me interesso em saber quem é o freguês, acho melhor assim. Nem leio jornal por esse motivo. Gosto de ver filmes. Também gosto de ler. Principalmente poesia."
Enquanto mata um, dois, três sujeito que tentam prejudicá-lo, o protagonista circula por um Rio de Janeiro, quase um espelho da realidade, em que toda aparência revela-se fraude. Os amigos do passado, até do tempo do seminário, serão os seus algozes. Supostos inimigos, na realidade, não são tão prejudiciais como o personagem supunha, antes, em alguns casos, de matá-los.
No romance, coberturas na Avenida Vieira Souto nem sempre são residências: antes, funcionam como ponto de encontro para consumo e comércio de drogas e cenário para orgias e relacionamentos extraconjugais.
O Seminarista traz diálogos bem escritos, humor, descrições de experiências sexuais e gastronômicas, além de uma crítica, indireta mas contundente, às desigualdades que pontuam a realidade brasileira, a carioca em particular. Também guarda surpresas que, se ditas nesta resenha, poderiam estragar a grande aventura que é ler um autor sempre surpreendente.
Serviço
O Seminarista. Rubem Fonseca. Agir. 184 págs. R$ 36,90.
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