Quando Leila Pinheiro fez dos detalhes do estúdio instalado em sua casa, como as flores amarelas sobre o piano e o pôster da Björk, o cenário do show Horizontes do Mundo Ao Vivo, a cantora buscava intimidade. Mas estava longe da que Olívia Byington consegue criar com um cenário talvez menos pessoal, um "varal" de tecidos estampados em degradê, um banco, o laptop.
Uma questão de postura: a ostentada por Olívia, ao aparecer diante do público do pequeno Teatro da Caixa, no sábado, para o show A Vida É Perto, era (aparentemente) despida de uma "persona" artística aquela que se costuma adotar na situação não-cotidiana do palco.
A carioca "apenas" estava lá, conversando com a plateia, contando histórias que a faziam rir, enquanto os atrasados se acomodavam em suas cadeiras. "Posso começar?", enfim perguntou, simpática e totalmente à vontade.
Musicalmente, o show também leva o adjetivo intimista a um patamar mais intenso: mais descontraído do que se costuma pensar do banquinho e violão de João Gilberto, mas com semelhante necessidade de concentração e silêncio.
Olívia dispensou a banda, como a atriz que prescinde de outros corpos em um monólogo. A comparação não vem à toa. Foi ao ver a amiga Déborah Bloch em um espetáculo-solo que a inveja germinou na cantora o desejo de estar sozinha no palco ela mesma conta. Munida de seu violão, investiu seu tempo em delinear novos arranjos para reviver clássicos como "Por Toda a Minha Vida" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), despida em momentos à capela, "Anos Dourados" (Tom e Chico Buarque), "Alguém Cantando" (Caetano Veloso) e "Com Que Roupa" (Noel Rosa).
Tudo o que se ouviu durante o show foi seu canto agudo, permeado por vocalizes, e o dedilhar do violão. Poderia ser a fórmula da monotonia, se não fosse Olivia dotada de um timbre tão belo, e de bom humor para costurar as músicas com as histórias pessoais que determinaram suas escolhas artísticas. Chegou a distribuir pela plateia uma cópia de um cartão postal mandado por Tom Jobim à sogra dele, que encontrou em uma feira de antiguidades na Gávea a mesma onde diz ter visto um disco seu.
Algumas opções do repertório contribuem para exaltar os ânimos do espetáculo, cuja calma provêm do mantra entoado ao início. A graça de "Menina Fricote", composição de Marilia Batista e seu irmão Henrique, dada a Aracy de Almeida para que a gravasse. Ou o inesperado hino sertanejo "Pense em Mim" (Douglas Maio/ José Ribeiro/Mário Soares), sucesso supremo da dupla Leandro e Leonardo, que se veste da delicadeza da voz de Olívia, e suas vocalizações.
Em inglês, cantou um cover de "New World", música com que Bjork a encantou na trilha sonora do filme Dançando no Esculo (de Lars Von Trier). Em francês, "Feuilles Mortes", forjando uma interação virtual com o cantor franco-italiano Yves Montand (1921-1991), saída de seu laptop, que ela mesma manuseava.
Quem perdeu o show, pode escutar as canções nas versões voz e violão, registradas no disco Perto, recém-lançado pela Biscoito Fino. Em silêncio absoluto. GGGG
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