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A peça se propõe a apresentar o universo inquietante da poetisa cariosa Ana Cristina César | Emi Hoshi / Divulgação
A peça se propõe a apresentar o universo inquietante da poetisa cariosa Ana Cristina César| Foto: Emi Hoshi / Divulgação
  • A densidade da peça é quebrada por comentários tristes e irôricos de Paulo José, que também dirige o espetáculo

Um Navio no Espaço ou Ana Cristina César (confira o serviço) fez a primeira apresentação no Festival de Curitiba, nesta sexta-feira (26/03), pontualmente às 21h, no Teatro Guairinha. Antes mesmo de a peça começar, aplausos já repercutiam no teatro.

No canto do palco Paulo José, diretor e ator da peça, está em um espaço que recria um escritório. Mesa quadrada. Laptop. Muitos livros. Enquanto as pessoas procuram seus lugares, ele murmura algo. Pensa alto. Fala coisas incompreensíveis. O que se houve na plateia são perguntas como "Já começou?", "Será que é para não entender?". Até que a campainha toca três vezes, indicando que agora sim a peça vai começar. Surpreso, e tendo certeza do início do espetáculo, o público aplaude.

A peça se propõe a apresentar o universo inquietante de Ana Cristina César, poetisa carioca de pouco reconhecimento no Brasil. Nos anos 80, Paulo José a conheceu, pouco antes de ela se suicidar, deixando nele uma pergunta difícil de ser respondida: "Por que ela fez isso?". Em uma espécie de homenagem à poetisa, poemas, prosas e cartas de Ana Cristina constroem os diálogos e os questionamentos dos personagens.

Ana Kutner, filha de Paulo José, representa a poetisa na peça. Pai e filha conseguem trazer reais sentimentos às palavras profundas e repletas de reflexões, medos, exaustão e incertezas de Ana Cristina. O olho no olho, do ator com o público, e os breves momentos de interação com a plateia fortalecem o espetáculo.

Uma mulher multifacetada é o retrato de Ana Cristina: "Não sou idêntica a mim mesma". A peça traz, incessantemente, esta busca por si mesma e por um momento pleno de felicidade. A figura feminina que ela representava também era claramente irreverente: "Sou uma mulher do século XIX, disfarçada de século XX".

A densidade da peça é por vezes quebrada por comentários tristes, irônicos ou bem-humorados de. A sinceridade e a obviedade com que ele trata situações corriqueiras trazem alguns instantes de risos.

Projeções audiovisuais desenham o que está sendo contado em cena e traduzem o processo frenético de criação da poetisa. São imagens em tempo real, ilustrações, manuscritos e originais feitos na máquina de escrever.

Mesmo com o dinamismo das projeções e alguns risinhos, houve quem não aguentou toda a profundidade do contexto e dormiu. Foram poucos. Mas alguns não acompanharam o ritmo.

A peça termina de forma delicada e intensa. No fundo, o retrato da inquietação: o rosto de Ana Cristina César. Aos ouvidos, uma frase: "O fim é o princípio". Luzes se apagam. Silêncio.

Já com as luzes acesas, os atores voltam ao palco para agradecer ao público e são aplaudidos em pé. Paulo José pede a palavra e ressalta a importância do Festival de Curitiba para o cenário cultural brasileiro. Mais aplausos da plateia. As ovações só param quando os atores somem na coxia. Neste momento, todo o desentendimento e tédio foram, literalmente, para o espaço.

O poético espetáculo ainda se apresenta nete sábado (27), às 21h, no Guairinha.

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