Prêmios

• Prêmio Especial do Júri e o prêmio de melhor ator (João Miguel), no Festival do Rio.

• Prêmios de melhores filme, filme brasileiro e ator (João Miguel), na Mostra de Cinema de São Paulo.

• Astor de Prata de melhor filme ibero-americano, no Festival de Mar del Plata.

• Prêmio do Sistema Educacional Francês, no Festival de Cannes.

• Recebeu duas indicações ao Prêmio ACIE de Cinema, nas categorias de melhores filme e fotografia.

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Ao escolher Cinema, Aspirinas e Urubus para ser o representante do Brasil no Oscar 2007, a comissão julgadora formada pelo Ministério da Cultura criou um precedente interessante. A escolha, ao contrário do ocorrido em anos anteriores, não foi movida pelo desejo de optar por um filme que tivesse um perfil mais afinado com os supostos padrões da Academia de Hollywood.

Muitos apostavam que o indicado seria Zuzu Angel, longa-metragem histórico de Sérgio Rezende que fez relativo sucesso nas bilheterias brasileiras e com ares de superprodução, como Dois Filhos de Francisco e Olga, títulos que o precederam na luta por uma vaga entre os finalistas ao Oscar. Preferiu-se, desta vez, abrir espaço para o melhor. Ainda que o filme de Marcelo Gomes tenha ficado de fora dos indicados, espera-se que a tendência se consolide daqui para frente.

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Cinema, Aspirinas e Urubus é, para início de conversa, um filme que consegue ser, ao mesmo tempo, acessível e relevante. Está fadado a ser divisor de águas. O longa de Marcelo Gomes tem como grande mérito apostar nas possibilidades da ficção cinematográfica, da narrativa. A história de Johann (Peter Ketnath) e Ranulpho (o ótimo João Miguel), espécie de buddy movie pelas estradas do sertão, comove exatamente pelo fato de seu registro investir com vigor e segurança na verdade da construção ficcional, sem recorrer a clichês que costumam povoar este tipo de história, sem emprestar-lhe um tom edificante, piegas ou previsível. O filme acredita, o tempo todo, na verdade dos dois personagens e no trajeto deles, e por isso nos convence que o encontro entre eles poderia muito bem ter acontecido daquela forma.

O alemão, em plena Segunda Guerra Mundial, atravessa o agreste nordestino a bordo de seu caminhão. Sua missão: divulgar, exibindo um filme a populações que mal ouviram falar de cinema, um "novo e revolucionário" remédio, a aspirina. Ranulpho é um retirante da seca nordestina que atravessa seu caminho e invade a cabine de seu veículo – e sua vida.

O roteiro do filme é construído em torno da aproximação entre esses dois personagens que pouco ou nada têm em comum, mas que, por um capricho do destino, são obrigados a conviver por um tempo. Johann é pragmático e objetivo. Já Ranulpho é um sujeito calado, ensimesmado. Mas o que mais o caracteriza é um quase cômico mau-humor constante. Juntos, os dois enfrentam uma série de situações que vão da disputa de uma mulher à mordida de uma cobra venenosa, nada muito extraordinário, mas tudo bastante significativo.

O que eleva Cinema, Aspirinas e Urubus à categoria dos grandes filmes é a qualidade rara do domínio técnico da linguagem que não chama a atenção para si, mas sim que está lá a serviço do que se narra. É assim a fotografia, a montagem, a direção de arte e figurinos: precisos e até virtuosos, mas nunca exibicionistas, porque servem aos personagens, ao filme, que tem uma organicidade incomum dentro do cinema contemporâneo, brasileiro ou não. Por isso, é bem mais do mais uma bela "história filmada".

Revisitando um território geográfico e temático mítico dentro da cinematografia nacional, o sertão, cenário de clássicos do Cinema Novo como Vidas Secas (de Nelson Pereira dos Santos) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (de Glauber Rocha), Cinema, Aspirinas e Urubus faz justiça a seus predecessores sem imitá-los. Mais do que fazer uma homenagem, ele constrói um novo capítulo, original e emocionante. GGGG1/2

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