Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Debate

Um novo horizonte

Gazeta do Povo entrevista dois escritores para saber como está e o que pode melhorar na cena da prosa e da poesia na capital paranaense

Sandrini e Venturelli: escritores de gerações diferentes afirmam que Curitiba tem autores de qualidade inquestionável, mas falta diálogo e fomento | Fotos: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Sandrini e Venturelli: escritores de gerações diferentes afirmam que Curitiba tem autores de qualidade inquestionável, mas falta diálogo e fomento (Foto: Fotos: Marcelo Elias/Gazeta do Povo)
 |

1 de 2

 |

2 de 2

A literatura curitibana vai bem, mas poderia estar ainda melhor. A avaliação é feita por Paulo Venturelli, 59 anos, e Paulo Sandrini, 39. Os dois têm muito mais do que apenas o primeiro nome em comum. Ambos são leitores, nasceram em outras cidades e fixaram residência em Curitiba, têm um pé dentro da academia e o outro na ficção.

Venturelli já poderia estar aposentado, mas segue a lecionar na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele diz encontrar na sala de aula oportunidades para a interlocução. Sandrini está à frente de cursos de criação literária em Faróis do Saber e Bibliotecas da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e, desde 2007, interagiu com dezenas de interessados no processo de escrita criativa. Venturelli e Sandrini di­­zem, a partir da experiência como professores, que há muitos leitores curiosos em Curitiba.

Sandrini chama a atenção para o fato de Curitiba já ter estabelecido uma tradição de literatura experimental. Jamil Snege, Valêncio Xa­­vier, Manoel Carlos Karam e Wilson Bueno escreveram obras pouco convencionais, aparentemente "difíceis", mas que costumam cair no gosto dos alunos. "Apresento os livros desses autores e os alunos ficam surpresos pelo fato de eles (alunos) não conhecerem anteriormente a literatura de um Karam ou de um Snege", diz Sandrini.

As oficinas de criação, conta Sandrini, acabam preenchendo uma outra lacuna: a falta de espaço para o diálogo. Ele acredita que teriam de ser realizados mais debates, seja para colocar os autores locais em evidência, como para formar público e promover o confronto de ideias. O escritor diz que esses encontros deveriam ser patrocinados pelo poder público, mas também pela iniciativa privada.

Venturelli observa que o poder público não investe, de fato, no trabalho intelectual. "O Paraná parece movido pelo seguinte slogan: ‘Aqui se trabalha’. Mas isso é muito pouco. O slogan deveria ser o se­­guinte: ‘Aqui se pensa’".

A argumentação do catarinense radicado, desde 1974, em Curitiba aponta para uma questão muito séria: política e cultura (e literatura) estão interligadas. "O Paraná não tem expressão nacional, no que diz respeito à política porque não fo­­menta a cultura", afirma, referindo-se ao fato recente, no qual o senador paranaense Alvaro Dias não conseguiu se manter como vice na chapa de José Serra na disputa pela presidência da República.

"Tudo está interligado. Mas enquanto o governo não investir em cultura, de maneira geral, ampla e permanente, continuaremos sendo inexpressivos em âmbito nacional", diz Venturelli.

Os escritores sabem que, en­­quanto o governo permanece inoperante, o negócio é encontrar alternativas. Sandrini criou a Kafka Edições, que já publicou cinco títulos, e deve viabilizar outros cinco em 2010. A meta, para 2011, é editar obras de autores locais e disponibilizar gratuitamente toda a tiragem, mesmo porque as edições são viabilizadas com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba.

Venturelli, autor de 17 títulos, nunca quis ganhar dinheiro com a literatura, apenas publicar seus livros. E, como sabe que uma andorinha, sozinha, não faz verão, toda vez que é convidado para palestras e mesas de debate, costuma falar dos muitos autores curitibanos, como Luci Collin, Assionara Souza, entre tantos. Não por bairrismo. Mas por ter a convicção de que, em Curitiba, está sendo feita, e já faz tempo, uma literatura de extrema qualidade, refinamento e experimentação.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.