A rua, um local tão próximo e ao mesmo tempo tão distante de todo cidadão, deflagrou o espetáculo Amoradores de Rua, do dramaturgo e diretor Rafael Camargo, de 45 anos. A montagem vem sendo exibida, em fase experimental, há mais de uma semana no pátio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas a estreia oficial é hoje, a partir das 22h30. Serão dez apresentações, sempre de quarta-feira a domingo.
Camargo lembra que a rua, que já foi um espaço político, palco de discussões, hoje tornou-se mero meio de passagem. E essas "artérias" da cidade abrigam não poucos moradores, os seres que estão fora do processo produtivo. São, na definição do dramaturgo, os invisíveis. A peça, entre outras nuances, propõe o encontro dos visíveis, os que têm funções sociais, com os não-visíveis.
Essa montagem em movimento, que dura aproximadamente 70 minutos, conta com seis atores: Adriano Petermann, Martina Gallarza, Maurício Vogue, Felipe de Souza, Marcelo Szymanski e Diego Marchioro. Eles são coautores do texto, elaborado a partir de interação de processo colaborativo.
A encenação, pelo menos momentaneamente, acontece em sete estações. Do nascimento ao fim, que é um carnaval, os personagens vão experimentar as delícias do céu, os desconfortos do inferno, incluindo purificação e o reconhecimento mútuo. Mas, avisa Camargo, Amoradores de Rua, como a própria rua, é algo vivo, em constante mutação, sujeita aos necessários ajustes.
O dramaturgo analisa que a proposta dialoga com o que chamam de teatro investigativo. Os atores realizaram pesquisa de campo. Ou seja, conviveram com moradores de rua. "Os moradores de rua chamam uns aos outros de irmãozinhos. Depois de algum convívio, os atores passaram a ser chamados de irmãozinhos, pelos próprios invisíveis da rua", conta o diretor, completando que muitos moradores ofereceram de pinga à proteção.
Mas, além dessa imersão no real, também aconteceu um diálogo com movimentos artísticos. Camargo conta que o grupo se apropriou de elementos do modernismo. "Incorporamos a ideia da antropofagia, que significa consumir diversos elementos, digerir e oferecer uma nova proposta. A rua faz isso: sempre transforma tudo em outra coisa", explica. O Cinema Novo, por ser muito pulsante, "como a rua", também tem pontos de contato com Amoradores de Rua. "Porque o Cinema Novo tem pulsão vital", completa.
Depois de cinco meses em processo, pesquisas e prática, Camargo diz estar satisfeito com Amoradores de Rua, para ele, uma montagem com estética interessante, diferente e curiosa. "Não tem historinha. Antes, é um projeto artístico aberto, que tem muitas camadas e que tanto diverte como tende a fazer pensar", diz.
Noite dessas, durante um dos ensaios abertos, justamente na cena da "matilha", surgiu uma cadela, que começou a puxar a roupa da atriz Martina Gallarza. Todos se emocionaram. E, para Camargo, foi um sinal. Que ele interpreta como bom agouro para esse projeto contemplado por edital da Funarte, aberto à comunidade, sem cobrança de ingressos.
Serviço
Amoradores de Rua. Pátio da Reitora da UFPR (R. XV de Novembro, s/nº). De quarta a domingo, às 22h30. Até de 11 abril. Entrada franca.
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