Foi justamente na época em que despontavam nomes como Skank e Raimundos que o jornalista e escritor Ricardo Alexandre começava a escrever sobre música. Primeiro, no Jornal de Jundiaí (SP), sua cidade natal, e depois em veículos como o Estado de S. Paulo e a cultuada revista Bizz. O então repórter assistiria de perto o que descreve como uma época "criativa e destemida" para o rock brasileiro. Mas também testemunharia uma destruidora ascensão e queda da indústria fonográfica, que levaria consigo esse mesmo cenário que ele viu florescer.
Esses são os contornos de Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar, terceiro livro de Ricardo Alexandre autor de Dias de Luta: O Rock e o Brasil dos Anos 80 (2002) e Nem Vem Que Não Tem: A Vida e o Veneno de Wilson Simonal (vencedor do prêmio Jabuti de 2010 como a melhor biografia do ano).
O autor faz um retrato do agitado cenário roqueira dos anos 1990 seu sistema composto por festivais, fitas demo, mídia alternativa, rádios e a MTV; seus personagens e suas relações com o mercado. Em capítulos curtos, passa pelo mangue beat e as cenas carioca, gaúcha e curitibana, que revelou na época grupos como Boi Mamão, Woyzeck e Resist Control (a banda que estava no palco que quebrou no festival Juntatribo 2, de Campinas, em 1994) alguns dos nomes que foram vítimas do sufocamento do mercado pelo marketing das gravadoras.
Ricardo, que chegou a dirigir a revista Bizz do período entre 2004 e 2007, conta tudo de um ponto de vista pessoal e reflexivo sobre sua atuação como jornalista e crítico musical. A abordagem é despretensiosa: os capítulos foram originalmente publicados como post no blog musica.br.msn.com/blog ao longo do ano passado. Mas o produto final é nutrido por histórias de bastidores e insights valiosos.
Um deles é a teoria que explica por que o rock brasileiro não emplaca hits desde "Anna Julia" (Los Hermanos) e "Mulher de Fases" (Raimundos): os artistas estão se conformando com a posição de microcelebridades possibilitada pela internet; carecem de oportunidades com a diminuição da indústria fonográfica; não têm mais intermediários na criação que limitavam a criação "umbigocêntrica" e "autorreferente" no passado; e são de uma geração que simplesmente não está interessada na árdua "carpintaria" que a comunicação com um público mais amplo exige.
"O que a gente vê hoje é um desestímulo muito grande à musica pop de autor", conta Ricardo Alexandre, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. "Ou você tem um tipo de música totalmente alheia ao mercado, ou totalmente escrava dele", analisa.
No entanto, assim como no livro apesar de seu título sugerir um cenário trágico , o autor não adota um tom alarmista. "Não há contingência de mercado capaz de reter uma boa ideia", diz.
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