Juca de Oliveira se deu conta de que, nas últimas décadas, passou mais tempo em companhia dos espectadores do que com a própria família, mas nunca havia conversado "pessoalmente" com seu público, apenas com a mediação de personagens. A constatação surtiu efeito. O ator reuniu textos soltos que havia escrito e, sob a batuta do amigo de longa data Jô Soares, montou o espetáculo-solo Happy Hour.
"Agora é um papo direto. Um ator único falando sobre suas próprias coisas", diz, sobre a peça que apresenta de sexta a domingo, no Teatro Fernanda Montenegro.
Há algum tempo, a corrupção dos políticos é o tema que tem lhe interessado mais como matéria-prima de sua dramaturgia. Como se viu em Às Favas com os Escrúpulos, na qual contracenava com Bibi Ferreira, também sob a direção de Jô.
Dessa vez, contudo, o ator ampliou seu leque de assuntos. Entre comentários sobre corrupção e ética, fala de sexo, comportamento, educação das crianças e trânsito. O tom da conversa é cômico.
Juca diz ser inevitável cair na comédia, uma vez que lida com personagens viciosos sim, ele se refere aos políticos brasileiros. "A grande maravilha da comédia é que se baseia fundamentalmente na verdade. Do choque entre a realidade concreta e o ato espúrio da pessoa viciosa, nasce o absurdo, e as pessoas riem", acredita. Para ele, "a comédia é mobilizadora". Ativa o raciocínio, vira assunto em mesas de amigos e leva as pessoas a modificarem suas posturas.
Juca está em Curitiba desde o começo da semana, aproveitando as manhãs para caminhas 7 km no Parque Barigüi. Na terça-feira, fez uma apresentação fechada para um grupo de médicos, no Guairão. "Para 2,5 mil pessoas, sozinho! Foi chocante, um delírio. Nunca vi participação (do público) tão ruidosa!", vibra.