Livro
The Secret Museum
Molly Oldfield. Harpercollins, 352 págs., importado, US$ 25. História.
Guardados a sete chaves na Royal Society de Londres estão três pedaços da macieira que um dia inspirou o físico e matemático inglês Isaac Newton (1643-1727) a formular a Lei da Gravidade. Com menos de dez centímetros de comprimento, os pedacinhos da árvore que sombreava a casa em que o cientista cresceu, em Lincolnshire, estão nos arquivos da famosa sociedade científica desde 1800, quando a macieira foi derrubada. De lá, no entanto, nunca saíram. No Museu Van Gogh, em Amsterdã, também inacessíveis, estão quatro cadernos de rascunho do famoso pintor holandês. Van Gogh (1853-1890) gostava de desenhar imagens que o impressionassem "no ato", caso da igreja de Nuenen, que, mais tarde, apareceu numa de suas pinturas.
Essas e outras 58 peças que contam parte da história do mundo e da arte, mas seguem distantes dos olhos do público, mobilizaram a escritora e roteirista da BBC Molly Oldfield durante todo o ano passado. E agora ganham os holofotes em The Secret Museum (O Museu Secreto). Lançado há 10 dias, o livro foi parar na lista dos cem mais vendidos da Amazon em menos de 24 horas.
"Existe um universo de objetos que o grande público simplesmente não pode ver", diz Molly, em entrevista, por telefone, de Londres. "Há muito mais peças guardadas do que à mostra. E não há nada que possa ser feito em relação a isso."
Em sua pesquisa, Molly encontrou diversas razões para a existência dos "museus secretos": do valor das peças à sua fragilidade, passando pela vontade dos curadores.
"Há objetos, como a maravilhosa cruz de pedras preciosas do Museu de Arte Sacra de Salvador, na Bahia, que são simplesmente valiosas demais para serem postas à mostra sem um superesquema de segurança. Existem ainda peças que já estão tão frágeis que não podem nem ver a luz", explica Molly. É o caso do The Diamond Sutra, a impressão mais antiga do mundo (de 868 a.C). Ela está numa caixa arquivada pela British Library.
Em The Secret Museum, cada uma das 60 peças toma um capítulo inteiro e traz uma historinha. No caso da bandeira espanhola usada na Batalha de Trafalgar, que envolveu França, Espanha e Inglaterra, em 1805, Molly conta que, em 2005, durante uma exposição em homenagem ao comandante Horatio Nelson (vencedor do conflito e considerado um dos maiores estrategistas navais do mundo), o National Maritime Museum tomou coragem e decidiu desenrolá-la em seu saguão. Chamou os jornalistas para registrar o momento, mas, na hora combinada, o príncipe Charles anunciou seu casamento com Camilla Parker Bowles e capturou a atenção de todos.
Molly visitou cem instituições pelo mundo. "No Brasil, achei incrível a estátua "Exu Boca de Fogo" feita em madeira, que está guardada no Museu Afro-brasileiro, em Salvador. Os curadores não a expõem porque acham que ela passa a impressão de que o orixá é uma figura ameaçadora, com língua e chifre. No Rio, fiquei impressionada com seis telas do pintor naïf Ricardo de Ozias. Feitas com a ponta dos dedos e com escovas de dente, elas representam o sofrimento da escravidão. Estão guardadas porque o Lucien Finkelstein [fundador do Museu Internacional de Arte Naïf, no Cosme Velho] morreu [em 2008] antes de decidir quando exibi-las."
Em São Paulo, a escritora encontrou a cabeça do menor dinossauro da América do Sul. E todas essas peças também estão em The Secret Museum. Unem-se, por exemplo, aos três fragmentos comprovadamente vindos de Marte que fazem parte do acervo do Observatório do Vaticano.
"Meu livro é apenas a minha seleção de peças ocultas. Quem percorrer o mesmo caminho encontrará muitas outras", conclui Molly.
Pedaços da macieira de Isaac Newton
O que são: Com menos de dez centímetros de largura, os pedaços de madeira vieram da macieira que um dia inspirou o inglês Isaac Newton a descrever a Lei da Gravidade. A árvore foi derrubada em 1800 pelo então dono da casa onde o cientista cresceu.
Onde estão: Esses fragmentos estão numa gaveta refrigerada no porão da Royal Society, em Londres.
Por que não podem ser exibidos: Por serem de material orgânico, extremamente frágil, explicam os cientistas.
Bandeira Espanhola da Batalha de Trafalgar
O que é: Com dez metros de altura por 14,5 metros de comprimento, a bandeira identificou um dos navios franco-espanhóis que lutaram contra os britânicos no confronto naval conhecido como Batalha de Trafalgar (1805). Com a vitória dos britânicos, sob o comando de Horatio Nelson (morto no conflito), ela foi içada na Catedral de Saint Paul e tremulou durante os funerais do comandante.
Onde está: Enrolada em papel-seda na reserva do The National Maritime Museum, em Greenwich.
Por que não pode ser exibida: A bandeira é enorme e pesada. Se pendurada no museu, toca o chão. Além disso, seu tecido já sofre um elevado grau de fragilidade, avisam os curadores.
Uniforme Lunar
O que é: Trata-se da roupa usada por Harrison Schmitt, o primeiro cientista a explorar a Lua, em 1972. Durante a missão Apolo 17, ele foi responsável por recolher muitas rochas lunares e, para tanto, sujou bastante o traje. O material cinzento que recobre a vestimenta é poeira lunar.
Onde está: Deitado, numa prateleira do Smithsonian National Air and Space Museum, em Massachusetts, Estados Unidos.
Por que não pode ser exibido: Por que a exposição provavelmente levaria à perda da poeira lunar que o recobre.
Caderno de Rascunho de Van Gogh
O que é: O pintor holândes Vincent Van Gogh carregava sempre ao menos um caderninho de rascunho em seu bolso. Queria fisgar "no ato" qualquer imagem que o impressionasse. Na primeira página de um desses cadernos ainda com a capa original azulada , uma igreja da cidade holandesa de Nuenen que acabou sendo pintada a óleo, por ele mesmo, anos mais tarde.
Onde está: Guardado na seção de desenhos e impressões do Museu Van Gogh, em Amsterdã.
Por que não pode ser exibido: O caderno de Van Gogh, de valor incalculável, está em estado muito frágil.